sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Nutrição Eqüina

Quando se fala de nutrição eqüina, o centro das atenções é a energia. Enquanto nossa sociedade sofre a crise de produçao e fornecimento, na comunidade eqüestre a crise é de informação.

I - Noções básicas: todos as reações biológicas não existiriam sem energia. Tudo começa com o fenômeno da fotossíntese - a folha da planta capta calor e luz do sol e C02 (gás carbônico) do ar atmosférico, que incorporados à água e ao amido circulante em sua seiva viva, formam o hidrato de carbono - daí a denominação de carboidrato. Com isso as plantas devolvem o oxigênio ao ar atmosférico - disponível novamente aos animais. Enquanto na planta a clorofila está estreitamente ligada ao magnésio, no animal a hemoglobina está ligada ao ferro, uma polaridade em favor da eficiência no aproveitamento do oxigênio.

I-1) O Carbono: todos os nutrientes, com exceção da água e dos minerais, contém carbono na sua composição.
Nas gorduras e carboidratos, o carbono se relaciona com o oxigênio e o hidrogênio, e nas proteínas se liga também a alguns minerais e ao nitrogênio. Esta diferença elucida a eficiência energética de cada nutriente.

I-2) Formas de carboidrato:
A. Os monossacarídeos: a glicose pode ser considerada como a unidade do açúcar, pois tem a fórmula mais simples dos açúcares (C6 H12 06), ou seja, 6 átomos de carbono, 12 de hidrogênio e 6 de oxigênio. Por isso a glicose é considerada um monossacarídeo. Outros dois açúcares simples, frutose e galactose, também têm o mesmo número de átomos, porém com arranjos ligeiramente diferentes.Esse pequeno detalhe fará uma enorme diferença no metabolismo, principalmente durante atividade física.

B. Os oligossacarídeos: os principais são os dissacarídeos, ou açúcares duplos (a soma de dois açúcares simples). Os três principais açúcares duplos são:
- sacarose - glicose + frutose, encontrada na cana de açúcar, na beterraba, no sorgo etc.
- lactose - glicose + galactose , encontrada naturalmente no leite.
- inaltose - glicose + glicose, encontrada em alguns cereais em germinação.

C. Polissacarídeos: três ou mais unidades de açúcar, são considerados polissacarídeos. São açúcares mais complexos. São subdivididos em vegetais e animais. Os principais polissuarídeos vegetais são o amido, encontrado principalmente no milho e a celulose, exclusivamente presente na parte estrutural das plantas (folhas, caules, raízes, etc.). 0 principal polissacarídeo animal é o glicogênio, que está presente dentro dos músculos e do fígado como verdadeiro armazém de energia.

Nesse ponto, estamos atingindo o cerne do nosso alvo - o cavalo. A intimidade que o metabolismo eqüino tem com a celulose (por isso classificado de herbívoro) é tão grande quanto a que tem com o glicogênio que está dentro do seu próprio organismo.

II - Revisão Científica: não se engane, muitas vezes é olhando para trás que se enxerga o futuro.

A revisão científica que proponho é com visão moderna - fisiologia do cavalo na intimidade do seu próprio ecossistema (meio interno) e a relação deste com a cadeia alimentar (meio externo).

Para darmos nosso próximo passo, uma senha de acesso é o entendimento de que a garantia da subsistência de um ecossistema só é possível através do compromisso que cada espécie animal assume em alimentar de energia a cadeia biológica. Como num acordo divinamente gerenciado, cada grupo escolheu um instrumento de trabalho - "O cavalo escolheu a velocidade”.
Na boca, um sistema mecânico (dentes) e bioquímico (saliva) fazem lentamente a pré-digestão da celulose (capim) em prol de poupar tempo na digestão intestinal. Abastadas glândulas salivares e vasta superfície de absorção perilingual proporcionam uma reciclagem de minerais por essa via (sublingual), com acesso direto às artérias sem passar pelo fígado e, conseqüentemente, pelo intestino delgado. Esse recurso fisiológico dribla a interferência negativa da taxa de absorção de minerais característico das dietas ricas em fibra. Além do que a absorção sublingual é passiva, sem gasto de energia - o que em parte não ocorre lá no intestino grosso. A mastigação de 1 kg de feno pelo cavalo pode levar até meia hora.
Daí para frente a velocidade é recorde. Em segundos, o alimento pode entrar no estômago, principalmente se forem ativados recursos facilitadores. Comendo com a cabeça baixa, a postura do ventre age favoravelmente na ação do músculo diafragma que, associado à musculatura da válvula gástrica, suga o alimento de forma rítmica, econômica e sem traumas.

O estômago tem tamanho relativamente pequeno. Discreta, contínua e rítmica produção de suco gástrico, seu mosaico de glândulas e seus movimentos não o identificam como um compartimento misturador. Não está preparado para digerir a celulose e a digestão de amido é economicamente duvidosa, já que a saliva da pré-digestão bucal é carente em amilase (enzima que degrada o amido). As proteínas e carboidratos sofrem as primeiras degradações. Todas essas características mostram que o estômago do cavalo tem uma participação de transição rápida do bolo alimentar, não devendo nunca ficar repleto nem tampouco totalmente vazio.
O intestino delgado está extremamente relacionado com a digestão química - além das suas próprias enzimas digestivas, é beneficiado com a bile e o suco pancreático. Aqui se estabelece uma "Encruzilhada" extremamente estratégica e ímpar no cavalo ela chega a ser tão gritante que se evidencia até anatomicamente. O pâncreas lança sua secreção no intestino delgado (para digerir os alimentos) através de um canal que se bifurca em dois: um se comunica com o canal biliar e juntamente com ele age sobre alimentos concentrados (degradando suas porções de carboidratos, gorduras e proteínas); o outro despeja uma secreção que serve como redutor da acidez do conteúdo alimentar para que possa entrar no intestino grosso sem afetar a população mutualista (contribuidora) bacteriana e protozoária da câmara de fermentação - o ceco. Este (o ceco) é sem dúvida o mais inteligente sistema de conversão energética. A partir de matéria prima bruta, a celulose (o capim) é capaz de produzir em sua câmara de fermentação gases que irão se transformar em ácidos gordurosos para uso energético imediato ou para armazenamento em forma de glicogênio no fígado e/ou nos músculos esqueléticos, ou até sob a forma de tecido adiposo que, quando mobilizado para gerar mais energia, se transforma novamente em glicogênio (liconeogênese). Esse glicogênio (conforme citado no item considerações básicas) é um polissacarídeo, que será subdividido em várias unidades de açúcar e estará pronto para gerar energia dentro da célula. Lá dentro da célula abastece a maior e mais eficiente usina energética da natureza, a mitocôndria.
Esse é o ponto de maior reflexão e que gera as maiores polêmicas práticas, científicas e estatísticas (há uma velha piada sobre o estatístico que se afogou num lago cuja profundidade média era de apenas meio metro). Mas a Inteligência Biológica tem nesses momentos a razão de sua existência a de produzir energia luminosa - a lucidez.
Aí vem o “ser ou não ser ...”Por que então um modelo” herbívoro por excelência, extremamente compromissado com a ecologia e, por isso, com a economia energética, dispõe de sistemas complexos bioquimicamente custosos à sua disposição. A resposta é simples e tem base em duas polaridades da Termodinâmica. Num extremo, o fluxo de energia, no outro a concentração de energia.
Para entender o fluxo de energia, imaginemos um ecossistema abastecido de dias freqüentes de sol, com períodos bem distribuídos de chuvas e estiagens e que não haja interferência significativa de atividades de economia humana. Durante as chuvas, os herbívoros se concentram todos no mesmo lugar, fartando-se com o capim novo, de alto teor protéico. No início da estiagem, a oferta de pasto não acompanha a demanda da população, fazendo com que se desloquem para pastos inexplorados. Assim, os ruminantes pastam o capim mais alto e se retiram imediatamente para outro local para garantir ao cavalo o pastejo mais rasteiro de sua preferência. Esta atitude biológica coletiva garante a repetição do ciclo. Esse sistema está sendo mantido através de um alto fluxo de energia.
Agora imaginem a situação inversa desses mesmos animais num rigoroso inverno (baixa temperatura e reduzida incidência solar). A procura por alimento deverá satisfazer a uma dieta de alto teor de carboidrato e gordura e que, principalmente, seja de alta concentração. Comer pouca quantidade que gere energia imediata e de glicogênio, e gordura como reserva energética e isolante térmico. Um sistema de concentração de energia.
Enfim, esta é a simples razão da versatilidade de alternativas em metabolizar, utilizar e armazenar energia que está disponível nessa máquina de movimento que é o cavalo.
O nosso cavalo moderno, de alta performance e constituição física invejável, vive simultaneamente sob os dois sistemas, concentrando alta energia (no cocho) para gerar alto fluxo (nas competições). Diante dessa realidade, uma estratégia nutricional compatível é providencial.
Há uma tendência bastante próxima no mercado de nutrição eqüina - mais que o alimento, o fabricante terá de disponibilizar e comercializar informação.
Uma informação muito importante para nós foi fornecida por um trabalho científico de 1994, (Lancha JR AH. Recco MB, Curi R. Pyruvato - Carboxilase activity in the heart and skeletal muscle of the rat. Evidence for a stimulating effect of exercise. Biochem Mol Biol Int 32:483-89, 1994).Essa pesquisa mostra na prática a interação econômica de geração de energia entre a disponibilidade de carboidrato em favor da mobilização de gordura. Esse dado é altamente estratégico na competitividade atlética de eqüinos de alta performance. Na próxima edição, falarei porque os fenos de gramíneas selecionadas associadas às sementes oleaginosas como a linhaça pode ser a combinação do futuro, e como o estudo da cronobiologia poderá gerar informaçoes em favor da "Inteligência Biológica".
Gustavo Braune; Nutrição Eqüina, Revista Horse Ilimitada, vol. 75

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

FENO
Por que se preocupar com feno agora, justo quando adentramos no período das águas e os pastos crescem à vontade, não havendo escassez de forrageiras?

Uma das principais características das nossas forrageiras é uma ótima produção na época das águas, em contraste com urna produção quase que insuficiente no período da seca.
Por este motivo, é preciso saber tirar o máximo proveito da generosidade da mãe natureza, durante este período de fartura, garantindo que este excesso possa ser processado e armazenado para os tempos difíceis. A fenação, entenda-se como o processo de desidratação e conservação da forragem no seu estado seco, envolve métodos desenvolvidos e aprimorados, para se maximizar o aproveitamento da matéria verde, buscando manter seu valor nutritivo, alto teor de carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais.
É um processo prático, econômico, de fácil execução. Não envolve processo químico ou fermentativo. A fenação tem como objetivo reduzir o teor de umidade do vegetal de 70% a 80% no natural, para 15% na massa fenada, preservando seu valor nutritivo, maciez e aroma. Para isso a forrageira deverá ser ceifada no estágio que coincide com sua produção máxima, associada ao seu maior valor nutritivo. Na maioria das vezes este estágio precede a floração da planta.
Coincidentemente, a grande maioria das forrageiras atinge esse ponto exatamente entre outubro e março, quando as chuvas são abundantes e tudo está sempre bem molhado. Daí o conceito de que a fenação é uma tarefa difícil de ser realizada, ou colocada em prática, pois seria necessário secar o capim em clima chuvoso, O que geralmente é esquecido, é que apenas dois dias são necessários para que se complete a secagem, e a desidratação pode ser feita em galpões, pelo sistema natural, ou em dessecadores, pelo sistema artificial.
De qualquer forma, considerando que nosso principal objetivo é obter um feno de alta qualidade, devemos nos lembrar que esse processo conserva o valor nutritivo original da planta. Se desenvolvido após o mês de março, devido a praticidade da ausência de chuvas, acaba-se por fenar uma pastagem “passada”, já amadurecida e, portanto, com seu teor nutritivo comprometido. Boa mesmo para a confecção de camas.

FASES DO PROCESSO DE FENAÇÃO

Preparo do Solo o Escolha da Espécie Forrageira
Nas áreas escolhidas para fenação exclusiva, ou conjugada ao pastoreio, deve-se aliar, sempre que possível, uma boa fertilidade de solo (que resulta de correção após análise), declividade suave e ausência de obstáculos à mecanização. A forrageira adequada à fenação deve ser resistente a cortes baixos e freqüentes e apresentar facilidades para os cortes mecânicos e estrutura que permita secagem rápida e uniforme. As leguminosas possuem fenação mais difícil, pois além de produzirem de 3 a 5 vezes menos matéria seca por área, (quando comparadas as gramíneas) possuem diferenças na desidratação entre caule e folhas. Este problema acaba por fazer com que durante o processo de secagem ocorra uma grande perda de folhas, comprometendo o valor nutritivo da massa seca, já que são as folhas que contém os nutrientes desejados. Por sua baixa resistência a cortes freqüentes, sua consorciação com gramíneas também se torna difícil.
As gramíneas mais utilizadas para a fenação e destacam por terem talos finos, pois permitem secagem uniforme e são Coast Cross, Transvalla, Estrela Africana e Pensacola. Como leguminosa a alfafa é a mais utilizada. Apesar de seu custo elevado, apresenta alto valor nutritivo, alta digestibilidade, além de ser rica em proteínas, cálcio e carotenóides.

Corte ou Ceifa
Como já foi dito, a idade ideal para o corte é aquela onde se conjugam a maior produção de matéria seca com o maior valor nutritivo. Existem dois tipos de cortes. O manual, que é reservado para pequenas propriedades, é feito com alfanjes e foices e o corte mecânico, feito com tratores, que é praticado em áreas maiores. O corte deve ser feito pela manha, não muito cedo, para que o capim esteja livre da umidade do orvalho, em dias de tempo firme e ensolarado. Dependendo da forrageira a ser ceifada, a altura do corte pode variar. Cortes baixos demais podem comprometer o rendimento da massa produzida nos cortes futuros e até mesmo influenciar na vida útil da pastagem. Atenção especial deve ser dada ao cálculo da área a ser ceifada, para que toda massa verde possa ser processada em dois dias, evitando-se assim, qualquer tipo de desperdício.

Desidratação o Enleiramento
A secagem pode ser feita a campo ou artificialmente, e visa reduzir o teor de umidade do material a aproximadamente 15% a 18%, preservando as características da planta, e evitando riscos de fermentação por excesso de água. A massa cortada vai secando exposta ao sol e aos ventos, de forma desigual, pois as camadas inferiores não são atingidas. Por este motivo, para uma secagem uniforme é necessário que a massa seja revirada com garfos ou ansinhos. Essa operação pode também ser realizada com a ajuda do trator. A desidratação se processa até se atingir o “o ponto de feno”, que é reconhecido a campo quando ao se torcer um feixe do material com as mãos, não se detecta umidade. O método mais seguro para identificação do “ponto de feno” é através de análise laboratorial do teor de umidade da amostra.
O enleiramento é o agrupamento da massa vegetal que deve ser realizado se, até o final do dia, não se conseguiu o “ponto de feno”. Amontoando-se toda a massa para protegê-la da umidade do orvalho. No dia seguinte as leiras são desfeitas para que prossiga a secagem até se atingir o “ponto de feno”. É importante lembrar que quanto mais virada a massa, mais rápida e uniforme será a desidratação.

Armazenamento
O feno pode ser armazenado na forma de fardos, solto em galpões, ou a campo quando coberto com lonas e sempre livre da umidade. O enfardamento é mais recomendado pela facilidade no armazenamento, transporte e melhor conservação do material por períodos maiores. Essencial para a conservação da massa fenada, é um ambiente protegido e ventilado, para que se evite a proliferação de fungos (bolores) pela presença da umidade.

Adubação da Área Produtora de Feno
O processo de fenação rouba do solo todos os nutrientes que ele forneceu para o crescimento e desenvolvimento da planta forrageira. Por este motivo, após cada corte, a restituição destes elementos deve ser conduzida com a orientação de um profissional competente, utilizando-se de corretivos e fertilizantes químicos ou orgânicos. Uma qualidade melhor de material fenado se obtém de áreas exclusivas a esse fim, onde temos a alta fertilidade do solo aliada aos processos modernos como a irrigação artificial, garantindo produções durante todo o ano. Essas áreas são chamadas “capineiras” onde se produz o feno para a alimentação, ou também chamado feno de primeira. O feno para confecção de camas pode ser extraído do sistema de rodízio de piquetes. Quando não se pretende produzir seu próprio feno, o melhor é comprá-lo de um fornecedor idôneo, e para isso é preciso saber identificar suas qualidades. Para se reconhecer um feno de boa qualidade, considera-se ideal a presença maior de folhas (que são a parte nutritiva da planta) em relação aos caules ou talos, coloração verde de tonalidade média, denotando uniformidade na etapa de secagem e a ausência de corpos estranhos e ervas daninhas na massa fenada, traduzindo sua pureza.O feno deve ser encarado como um produto nobre que reflete diretamente a qualidade da pastagem, quer pelo solo, como pelos cuidados com as forrageiras. O processo de fenação não é apenas uma forma de se evitar o desperdício das pastagens, mas principalmente uma fonte alternativa de rendas. Um mercado extremamente promissor vem tomando forma na medida em que a vontade de se possuir um cavalo começa a se tomar realidade, refletindo uma reestruturação da criação nacional. Instalações e serviços vêm-se aprimorando para melhor atender a esses novos proprietários, que não dispõem, como os criadores tradicionais, de meios para manutenção de seus animais. Crescem o número de pensionatos para cavalos, hípicas e centros de treinamento e o feno passa a participar ativamente do manejo nutricional dos animais estabulados.


Texto: Andréia Caldeira
Colaboração: Milene Andrade
Fotos: Álvaro Maya

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Reunião sobre manejo reprodutivo 22/10

Para a reunião do dia 22 estão diponíveis dois textos no blog. Um postado em 21/10 por Joana Glória e outro postado por Raíssa Martins em 30/08.

Biotécnicas reprodutivas

A temporada de monta já começou nas regiões mais quentes do Brasil e você pode ser um dos milhares de proprietários que estão pretendendo cobrir sua égua nessa Primavera. Qualquer que seja seu nível de criação - de uma égua mestiça no fundo do quintal até um haras formado com número variável de éguas de qualidade, é importante que você crie uma expectativa realista com relação à preparação e ao manejo reprodutivo de sua matriz.
Devemos ter o conhecimento também, de que a égua não é uma das mais eficientes máquinas de reprodução da natureza. Primeiramente em função da própria fisiologia reprodutiva do eqüino que possui inúmeros detalhes e depois por culpa do próprio homem que raramente seleciona os reprodutores por sua capacidade reprodutiva e sim por suas inúmeras habilidades desportivas que nada tem a ver com fertilidade e que acabam forçando a utilização de animais com baixa aptidão reprodutiva que produzem outros animais com baixa aptidão reprodutiva.
Comece se perguntando algumas questões. Esteja preparado para discutir suas opções com seu veterinário ou criadores mais experientes que você. Comunicação e entendimento são a chave do sucesso na reprodução de eqüinos.
Que método de cobertura eu gostaria de usar?A tecnologia atual dá ao criador um enorme leque de opções para fertilização da égua, caso sua Associação permita.
Cobertura NaturalVantagens: método que tem o maior índice de fertilidade (70-80%) quando se trabalha com reprodutores normais. Não necessita controle tão restrito do ciclo estral. Método mais barato.Desvantagens: o risco da égua ser transportada até o local onde se encontra o garanhão, se a égua estiver com potro ao pé o risco é maior ainda. Obviamente a égua só poderá ser servida por garanhões que estiverem nas proximidades, pois se a viagem for de mais de 15 horas, ela tem grandes chances de reabsorver o embrião no retorno para sua casa, caso esteja prenhe de menos de 50 dias. Assim, deve-se levar em conta o preço da estadia no Haras do garanhão.
Inseminação ArtificialVantagens: método que permite a fertilização da égua dentro da propriedade, sem o risco de transportar as éguas e seus preciosos potros por aí. Desvantagens: necessita de excelente controle do ciclo da égua para obtenção de taxas satisfatórias de prenhez.
Inseminação a fresco: método utilizado para otimizar a utilização do garanhão, que com um único ejaculado, dependendo da qualidade de seu sêmen, pode fertilizar 3 a 6 éguas. Esse sêmen é coletado pelo veterinário em uma vagina artificial, preparado, dividido e inseminado na hora. Pode ser utilizado até 4 horas depois da coleta em temperatura ambiente, o que permite a coleta em um haras próximo para inseminação da égua dentro desse tempo. Evita transporte e estadia da égua em outra propriedade, mas deve-se considerar os gastos com o veterinário com relação à coleta e preparo do sêmen e os exames da égua para o melhor momento de inseminação. A taxa de prenhez desse método é a mesma da cobertura natural. Pode-se ainda regular hormonalmente duas ou mais éguas e insemina-las todas de uma vez, reduzindo o custo por égua.
Inseminação com sêmen resfriado: método muito utilizado quando o garanhão está a uma distância considerável da propriedade da égua, impossibilitando o transporte. Nesse caso, o sêmen é coletado e preparado como o sêmen fresco, mas depois é colocado em um recipiente resfriador especial chamado "Equitainer". Esse recipiente nada mais é do que um isopor térmico preparado para manter o sêmen a uma temperatura constante de 4° C por até 60 horas. O nível de fertilidade 24 horas depois da coleta é por volta de 40 a 60%. Assim o sêmen é coletado por exemplo no Rio Grande do Sul e despachado por avião para inseminar uma égua no Rio de Janeiro dentro de um prazo de 24 horas. A vantagem óbvia dessa técnica é a possibilidade da utilização de qualquer garanhão do território nacional com fertilidade normal. A desvantagem é que como a taxa de fertilidade do sêmen cai um pouco mais, o controle do horário estimado da ovulação da égua tem de ser bastante acurado, porque o veterinário vai supor que a égua vai ovular no dia seguinte e ligar pedindo o sêmen no dia anterior. Se ele errar o momento da ovulação todo o trabalho é perdido. Os custos são os de controlar a égua, coletar o garanhão, envio do sêmen por avião, coleta do sêmen no aeroporto de destino , inseminação da égua e retorno do Equitainer vazio por avião.
Inseminação com sêmen congelado: uma coisa está mais do que provada: o sêmen do garanhão não é o melhor do mundo para ser congelado. A sua taxa de fertilidade após o descongelamento gira em torno de 30-40% em garanhões considerados bons. Ainda, nem todos os garanhões se prestam para congelamento. Entretanto, o sêmen congelado de animais expoentes é cada vez mais comercializado no mundo todo. É importante lembrar também, que ao contrário dos casos anteriores, onde o dono da égua só vai pagar a cobertura em caso de prenhez; a dose de sêmen congelado é paga independentemente de a égua ficar prenhe ou não. A grande vantagem é a possibilidade de cobertura de sua égua com o melhor garanhão possível em termos internacionais, a utilização de garanhões em plena atividade desportiva e ainda garanhões que já morreram. Como o sêmen congelado tem uma fertilidade menor ainda, é necessário um controle veterinário acurado para apontar com exatidão o momento da ovulação da égua e boa técnica de manipulação do sêmen para proceder a inseminação. Hoje em dia, já existe uma técnica avançada de inseminação artificial para sêmen congelado com o auxílio de endoscópio que deposita o sêmen diretamente na papila da entrada da trompa da égua, aumentando tremendamente as chances de prenhez e ainda com a vantagem de se utilizar apenas ¼ da dose de sêmen congelado por tentativa, fazendo com que a sua dose paga de sêmen renda muito mais. Ainda nos custos deve ser computada a compra de um botijão de nitrogênio líquido para manutenção do sêmen e a reposição mensal de nitrogênio.
Transferência de Embriões:Técnica já masterizada por várias centrais de reprodução nacionais e utilizada em vários haras maiores com boa infraestrutura de reprodução. Permite o aproveitamento de éguas que continuam a sua campanha desportiva na reprodução, a utilização de éguas expoentes que não podem mais gestar por diferentes razões - desde problemas de fertilidade até idade avançada; e ainda a produção de vários produtos por ano de éguas importantes caso a Associação permita. Alguns criadores reduziram seu plantel à 2 ou 3 éguas expoentes e trabalham tirando vários produtos por ano destas éguas ou mesmo negociando seus embriões. As desvantagens são os altos custos da técnica e a baixa taxa de prenhez das receptoras no eqüino. Em geral para cada égua doadora tem que se trabalhar com duas ou três éguas receptoras que devem ser de tamanho compatível e ótima fertilidade. Essas receptoras muitas vezes são alugadas pelas centrais de reprodução pelo ano de gestação e devolvidas após o desmame do potro.
Qual é o histórico geral de minha égua?O histórico veterinário de sua égua pode ser muito importante para decisão de cobertura porque alguns problemas podem atrapalhar a sua fertilidade, tais como hipotireoidismo, doenças hepáticas, aguamento, claudicações importantes, excesso de medicações durante carreira desportiva, etc. A dor é um componente importante causador de reabsorção embrionária no início da prenhez.
Qual é o histórico reprodutivo de minha égua?Perguntas importantes que o veterinário lhe fará antes de considerar a cobertura de sua égua:Quando nasceu o último potro da égua?Houve alguma complicação pós-parto? (partos demorados ou problemáticos, lacerações, retenção de placenta, problemas com o potro, gêmeos). A gestação normal da égua é em média de 11 meses. Qualquer desvio de mais de 18 dias deste tempo médio deve ser comunicado ao veterinário. Sua égua cicla normalmente? O ciclo normal da égua na Primavera-Verão é de 21 dias com um período de cio que varia de 4 a 6 dias. Esse ciclo pode ser modificado pela ação de medicamentos hormonais para mais ou para menos de acordo com o interesse do criador em cobrir mais cedo ou em sincronizar éguas para inseminação ou transferência de embriões.Sua égua tem algum histórico de problemas reprodutivos? Foi coberta várias vezes e não emprenhou? Reabsorveu após confirmação de prenhes? Aborto? Natimortos? Potros fracos?
Tudo isso tem grande efeito nos custos e na probabilidade de produção de um potro sadio no próximo ano. Cada caso deve ser muito bem estudado.
Qual é a taxa de fertilidade presumida de minha égua?Éguas jovens, sem potro ao pé e com menos de 6 anos de idade tem a maior taxa de fertilidade.Éguas paridas, lactentes e éguas jovens que já criaram, mas que por alguma razão ficaram vazias no ano anterior requerem atenção especial. As duas primeiras necessitam excelente acompanhamento nutricional para permitir que entrem no cio regularmente, sejam cobertas e possam manter a nova gestação com o potro mamando, e as terceiras provavelmente tem algum problema reprodutivo que requer um exame veterinário mais acurado e possível tratamento antes de se tentar nova cobertura.Éguas de cria velhas - acima de 14 anos, éguas virgens com mais de 9 anos de idade têm sua taxa de fertilidade bastante reduzida.
A escolha do garanhãoLembre-se que a égua entra com pelo menos 55% da genética de seu produto. Assim de nada adianta escolher o melhor garanhão do mundo e coloca-lo em uma égua medíocre esperando obter um animal da categoria do pai. O que você realmente conseguirá será um animal com menos da metade das características do pai que pode não valer nem o preço da cobertura...O ideal é escolher um garanhão de qualidade, com características que reconhecidamente sejam melhoradoras para os pontos fracos específicos da sua égua e cujo preço da cobertura não exceda 30% do preço de mercado de um produto médio do garanhão.
Eu posso arcar com os custos dessa cobertura?O fator do custo da cobertura, do tipo e manejo reprodutivo utilizado, controles e tratamentos veterinários, transportes, estadias, etc deve ser bem pesado antes do proprietário se decidir pela cobertura de sua égua. A reprodução eqüina pode se tornar bastante custosa principalmente se não é produzido um potro vivo ao final de tudo.
O criador deve levar em conta que a égua pode não emprenhar na primeira tentativa, a égua pode reabsorver no período crítico dos 45 dias iniciais de gestação, e vários outros problemas podem ocorrer durante o longo período gestacional da égua. Sua única garantia, no caso de um trabalho bem feito, é de que seu veterinário e um bom gerente farão o possível para assegurar as máximas chances de concepção e manutenção da gestação de sua égua. Não importando o resultado final, proprietários bem informados sempre têm um nível de satisfação maior, tanto financeiro como logístico, com a nem sempre fácil reprodução eqüina.

Dra. Adriana Busato é Médica Veterinária, Professora Adjunta de Equídeocultura na PUC-PR, inspetora da ABCCH e proprietária do HARAS FB onde cria BH e Hanoverianos. Apresenta e compete com seus animais em Salto em Circuito Nacional Amador. Fone: (041) 352-4628 e-mail: haras_fb@harasfb.com.br

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Próximos assuntos das reuniões do gequus:
15/10 Doença da Cara inchada (osteodistrofia fibrosa equina) Cássio
22/10 Manejo Reprodutivo
29/10 Acessorios de montaria Arley e Lucas

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Leitura para a proxima reunião

Óleo na dieta dos cavalos... Você também acredita que é só para fazer o pêlo brilhar?
por Dr. Ricardo Lougon Ávila

Muitos proprietários e treinadores ouviram falar ou usam algum óleo vegetal na dieta dos cavalos. A razão mais comentada para esta finalidade é a melhora da pelagem entre outras coisas. Contudo, isso vem mudando rapidamente. Os técnicos da área têm se empenhado em acompanhar o que se chama hoje de nutrição ou suplementação esportiva. A crescente profissionalização do meio contribui para o aprimoramento das dietas, atendendo assim a demanda dos cavalos e proprietários cada vez mais famintos por ranking e premiações.

O cavalo é um animal com um sistema digestivo muito peculiar e sensível, sendo que a competição extrema faz com que sejam levados ao limite do organismo. Esta sensibilidade digestiva está muito ligada ao volume de ração ofertado e a alta concentração de carboidratos, isto é, uma quantidade muito grande de concentrado na forma de grãos e farelos para aumentar a capacidade energética. O óleo possui mais de 2 vezes a energia contida nos grãos, ou seja, uma ótima opção de suplementação quando o assunto é necessidade de energia e sem problemas de digestão. Existe pouca alteração na quantidade de calorias entre os óleos. Contudo, existe diferença no perfil de ácidos graxos de cada óleo e quanto a outros nutrientes interessantes que são extraídos no processo de refino.

A quantidade maior ou menor de um certo ácido graxo na composição de um óleo qualquer, pode determinar se o seu cavalo mudará da água para o vinho ou o inverso. São muito difundidas as propriedades dos ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados e execradas as propriedades dos ácidos graxos saturados. Um óleo rico em monoinsaturados, como óleo de oliva, tem seu preço por volta de R$25,00 o litro. Já o sebo bovino rico em ácidos graxos saturados, custa em torno de R$0,80 o litro. Para cavalos atletas que valem muito dinheiro, saber escolher qual o perfil de óleo a ser utilizado na dieta pode ser uma pequena, porém, providencial colaboração para a vitória.

Outra grande diferença está entre utilizar um óleo refinado ou semi-refinado. Aqueles que se encontra nas prateleiras dos supermercados são os refinados, ideais para cozinhar e fritar.

No óleo bruto se encontram várias substâncias como vitaminas lipossolúveis, lecitina, pigmentos, fitoesteróis e enzimas. Porém, nesta fase o óleo se deteriora rapidamente aumentando acidez e o ranço, por isso é inútil usar óleo bruto. No processo de refino são retiradas quase todas estas substâncias e depois vendidas em separado como suplementos. Outro produto deste processo são os farelos que podem ser desengordurados, como o farelo de soja ou os farelos “gordos”, pouco palatáveis e com ingestão limitada. Por esta razão, um óleo refinado de soja ou de milho custa muito barato, não há nada mais além de energia.

Já o óleo semi-refinado não é indicado para frituras, mas preserva os nutrientes interessantes para o organismo através de processo de alta tecnologia, sem problemas de acidez ou ranço. No processo de semi-refino é retirada a lecitina e a acidez, mantendo vitaminas e fitoesteróis como o gama-orizanol, encontrado em grande concentração no óleo extraído do farelo do arroz. O gama-orizanol é uma substância com propriedades anabolizantes que aumentam a massa muscular e antioxidantes que protegem as células durante o esforço físico.


(HTNUTRI, Camaquã – RS – Única empresa na América do Sul com tecnologia capaz de produzir óleo semi-refinado de farelo de arroz e registrado pelo Ministério da Agricultura)

Perceba que agora você já compreende as diferenças na composição dos óleos quanto aos ácidos graxos e as diferenças entre refinado e semi-refinado. A suplementação com óleo pode variar na sua quantidade de acordo com o peso do animal e a intensidade do treinamento. Para a comunidade científica o ideal está em torno de 15% da necessidade diária de energia que pode ser ofertada na forma de óleo. Para melhor esclarecer vamos aos extremos dos exportes eqüestres com o esquema abaixo:
• Evento de baixa intensidade e longa duração (enduro de 120Km), recomendação: 350ml a 400ml ao dia.
• Evento de alta intensidade e curta duração (penca de 700m), recomendação: 200ml a 250ml ao dia.

No Brasil existem muitas opções de suplementos para cavalos e o número de lançamentos cresce junto com o mercado. Muitos nomes performáticos, quase todos com os mesmos apelos e os mesmos ingredientes que os compõem. Os proprietários e treinadores brasileiros não compram mais qualquer produto, confrontam apelos de venda com os ingredientes. Já existe uma preocupação em aumentar a vida esportiva dos cavalos e os “coquetéis” endovenosos de resultado fácil são banidos pouco a pouco à medida que o esporte evolui e os profissionais se tornam mais responsáveis. O óleo é um produto simples e ao mesmo tempo rico por natureza, que pode trazer muitos benefícios para a performance e para a saúde dos cavalos se bem escolhido e usado com critério.

Dr. Ricardo Lougon Ávila
Veterinário
11-96592272

Artigos enviados

Estou enviando esses dois artido para leitura para serem discutidos na proxima reunião no dia 24 de setembro as 11 horas.
Obrigado

Leitura para a proxima reunião

MORMO

A exploração de muares em trabalho intensivo e as condições ecológicas e de criação podem favorecer a instalação da doença.

Não há dados precisos sobre a introdução do mormo no Brasil. Isso
teria ocorrido, provavelmente, em 1811 na Ilha de Marajó, onde foi
introduzido grande número de cavalos procedentes da cidade do Porto,
em Portugal. Após algum tempo, um grande número deles morreu,
apresentando "catarro e cancro nasais".

Ao longo do século XIX várias ocorrências de mormo são identificadas,
principalmente nas cidades do Rio de Janeiro, Campos, São Paulo e
Salvador. Sua presença quase sempre estava relacionada com unidades
militares e companhias de bondes, movidos a tração animal. A partir de
1950, a doença passou a ser observada cada vez mais raramente,
coincidindo com a redução do uso dos equídeos.

Em 1968, casos de mormo foram diagnosticados por técnicos do
Ministério da Agricultura no município de São Lourenço da Mata, em
Pernambuco. O Boletim de Defesa Sanitária Animal, sobre as primeiras
observações das doenças animais no Brasil, publicado em 1988, considerou
que a doença estaria extinta no Brasil, uma vez que, desde a sua constatação
em Pernambuco em 1968, nenhum caso novo fora comunicado num
prazo de 31 anos, no entanto, nunca foi estabelecido um programa de
controle ou erradicação de tal forma que não podemos considerar a
doença erradicada.

Além disto, conforme documento encaminhado ao Ministério da
Agricultura em 1998 por pesquisadores da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, os casos de "catarro de mormo", ou "catarro de burro",
como a doença é denominada neste estado, continuaram ocorrendo e matando grande número de equinos e muares (burros) nas propriedades
canavieiras da zona da mata. Apenas em um dos municípios afetados
foram registrados por esta equipe de veterinários mais de 400 mortes
causadas pelo mormo nos últimos anos.

Em setembro de 1999, os professores Fernando Leandro dos Santos e
Rinaldo Aparecido da Mota, do Departamento de Medicina Veterinária
da UFRPE solicitaram ao Ministério da Agricultura (MA) a coleta de soro
em animais das propriedades do Grupo António Farias, no município de
Cortes (PE), e do Grupo Trapiche, localizadas em Serinhaém (PE) e São José
da Laje (AL), onde estaria ocorrendo mormo. Esses soros foram remetidos
para o LAPA/Recife, que providenciou seu envio para análise no Laboratório Paddock, em São Paulo.


O Laboratório Paddock, em 7 de outubro, comunicou os resultados do
exame de fixação de complemento para mormo ao MA quando 7 animais
se mostraram positivos em um total de 20.

Esses resultados confirmaram a suspeita de que se tratava de mormo. Na
ocasião, o Departamento de Defesa Animal (DDA)
do MA notificou o OIE sobre esta ocorrência.

A situação provocou alterações no trânsito interestadual e internacional.
Em 3/2/2000, o DDA proibiu o trânsito interestadual de equídeos com
origem nos estados de Alagoas e Pernambuco. Alguns países da América
do Sul, incluindo a Argentina e o Chile fecharam as fronteiras para equinos
provenientes do Brasil e em virtude destas barreiras sanitárias, foi cancelado
o XX Clássico da Associação Latino Americana de Jockeys Clubs, previsto
para o dia 18/03/00, no Jockey Club de São Paulo causando grande
prejuízo. Os animais brasileiros também não puderam participar de alguns
torneios pré-olimpicos e diversas transações envolvendo a exportação dos
nossos animais foram suspensas. Em 1/3/2000, a União Europeia proibiu a importação de equídeos provenientes dos estados de Pernambuco e
Alagoas.

Em fevereiro de 2000, o DDA realizou uma missão de avaliação da
situação do mormo nos estados de Pernambuco e de Alagoas. Deslocaram-
se à região os Drs. César Rozas e Vitor Gonçalves.da Divisão de Epidemiologia.
Esta missão permitiu concluir que:
Os casos diagnosticados de mormo não são ocorrências isoladas nas
usinas afetadas e desde algum tempo que os técnicos da região suspeitavam
da doença, com base em manifestações clínicas, principalmente em muares
de trabalho. A demora em obter um diagnóstico conclusivo deveu-se ao
fato de ser difícil a caracterização do agente em questão e, também, por
a doença se julgar erradicada.

As evidências clinicas não sugerem que a doença tenha origem fora
da região, uma vez que os sinais de doença são aparentes apenas algum
tempo após o ingresso na região da zona da mata dos dois estados, onde
os muares são utilizados na produção de cana-de-açúcar em plantios de
encosta. As condições ecológicas (alta umidade) e as condições de criação
e exploração destes animais são favoráveis à manutenção do agente
infeccioso, uma vez que os muares são mantidos em trabalho intensivo
durante aproximadamente 10 anos, durante os quais são mantidos em
grupos de equídeos com contato permanente entre si.

No entanto, em levantamentos feitos posteriormente, foram detectados
animais positivos também nos estados de Sergipe e do Ceará, o que exige
uma investigação mais ampla.


Felizmente, em 27/04/00, os quatro países do Mercosul assinaram
um acordo que permite o ingresso de equídeos procedentes do Brasil,
revogando a proibição anterior, na condição de os animais:

1. terem origem e procedência de zonas livres da enfermidade;
2. terem permanecido, durante os seis meses anteriores ao embarque, numa
propriedade onde não foi detectado nenhum caso de mormo;
3. apresentarem resultado negativo na prova de fixação de complemento
para detecção de mormo, nos 15 dias anteriores ao embarque; e
4. não apresentarem sinais clínicos de mormo no dia do embarque.


SINTOMAS DA DOENÇA

A doença manifesta-se sob as formas nasal, pulmonar e cutânea. Pode
provocar nódulos e ulcerações no trato respiratório superior e pulmões e
ataca também o sistema linfático, com a formação de abscessos nos
linfonodos. Os animais doentes apresentam febre, corrimento nasal
mucopurulento, dificuldade respiratória, nódulos no trajeto dos vasos
linfáticos, úlceras e escaras e debilitação geral. A transmissão se dá por
meio do contato com as secreções e excreções de doentes, especialmente a
secreção nasal e o pus dos abscessos, que contaminam o ambiente e,
principalmente, comedouros e bebedouros.

Em um breve estudo epidemiológico feito pela equipe da UFRPE
constatou-se que a maioria dos animais acometidos é de muares adultos,
usados no transporte de cana, e equinos, que substituíram os muares
mortos e foram submetidos ao mesmo regime de trabalho. Mais
recentemente passaram a ocorrer casos em animais de esporte,
especialmente cavalos Quarto de Milha (vaquejada, argolinha, rodeio, etc.)
e de passeio (cavalgadas e comitivas), muito provavelmente em conexão
com a intensa circulação de equídeos em Pernambuco onde a "indústria
do cavalo" tem se desenvolvido rapidamente. O ingresso da doença nas
propriedades apresenta algumas peculiaridades, considerando
fundamentalmente o manejo, os tipos de propriedades e os hábitos culturais
para a compra e movimentação dos animais na zona rural pernambucana.
A maioria dos estábulos nestas regiões é coletiva e com um cocho único
facilitando a disseminação do mormo devido à grande promiscuidade
entre animais sãos, aparentemente sãos e doentes.

A base da alimentação é de melaço, cana e sal. Nas usinas e engenhos
há ingresso de equinos e muares de diversas localidades que trazem a cana
de outras propriedades para ser processada e se misturam aos animais de
haras e centros de treinamento ali alojados por motivos diversos sem
qualquer preocupação, considerando uma crendice de que o equino não é
suscetível ao "catarro de mormo"

COMO COMBATER A DOENÇA?

A profilaxia do mormo baseia-se no isolamento da área onde existirem
animais doentes, sacrifício dos animais positivos às provas de diagnóstico,
isolamento e releste dos suspeitos, cremação dos cadáveres no próprio
local, desinfecção das instalações e de todo material que esteve em contato
com doentes, suas excreções ou secreções. O tratamento não é indicado
pois os animais se tornam portadores crónicos e fontes de infecção para outros animais.

No entanto, a solução para o problema detectado inicialmente nos estados
de Pernambuco e Alagoas passa por um envolvimento e comprometimento
dos vários setores afetados - usinas e seus fornecedores, criadores de cavalos,
organizadores de eventos equestres e outros - em colaboração com os
ó rgãos públicos, como os serviços de defesa sanitária animal e a universidade
e o primeiro passo deve ser um estudo que permita avaliar a situação epidemiológica nos dois estados, não apenas na população de animais
envolvida na produção de cana-de-açúcar, mas também em
outros setores, dentro e fora da zona da mata.

Assim, o Ministério da Agricultura em reunião técnica realizada nos dias
17, 18 e 19 de abril de 2000 em Brasília, com a presença de diversos
especialistas, estudou profundamente o assunto e estabeleceu metas visando
o combate a esta doença.

A primeira dificuldade que se coloca ao delineamento de um
programa de combate ao mormo é o desconhecimento da dimensão
atual do problema. Não se conhece ainda a prevalência da doença,
nem tampouco a área geográfica e o tipo de propriedades envolvidas.

Assim, o início do programa deve compreender um estudo soro-
epidemiológico com o objetivo de caracterizar a dimensão real do
problema. Pretende-se estimar os níveis de prevalência da doença em
diferentes segmentos da população de equídeos e em várias regiões dos
estados afetados, com o objetivo de priorizar e direcionar as ações de
controle e erradicação da doença. O mesmo trabalho será realizado em
regiões de outros estados que tradicionalmente criam muares e vendem
esses animais para o Nordeste.

Simultaneamente, todas as suspeitas de focos de mormo serão atendidas, em todos os estados brasileiros, com coleta de sangue para diagnóstico laboratorial. Tanto o estudo soro- epidemiológico de prevalência como o atendimento à focos serão financiados com recursos públicos e executados pêlos órgãos de defesa
sanitária animal dos estados envolvidos. Os resultados do estudo estarão
disponíveis em outubro de 2000; nesse momento será possível determinar
como será o programa de erradicação.

Fonte:

Imagens: - Saúde Animal, www.saudeanimal.com.br

domingo, 7 de setembro de 2008

EQUOTERAPIA

A CURA VEM A CAVALO

Também conhecida como equitação terapêutica, a Equoterapia usa o cavalo como agente, auxiliando no tratamento de várias deficiências físicas e mentais. O tratamento através do cavalo, com ajuda de uma grande equipe, vem adquirindo cada vez mais adeptos no mundo inteiro. Diante disso, fica provado que a Equoterapia é um método extremamente eficiente, que aba cura e lazer, provando que o cavalo também pode ser o melhor amigo do homem.

Os Primeiros Passos
Os antigos médicos gregos já conheciam e recomendavam o efeito benéfico da equitação para a saúde. Sabendo disso, médicos parisienses começaram a estudar o que mais tarde seria chamado de "Equoterapia", em 1875. Mas, nessa época, ela não foi praticada formalmente. Foi apenas nos anos 30, na Alemanha, que ela se tomou uma alternativa para a cura de vários problemas.

Talvez a faísca para tomar a Equoterapia conhecida do grande público foi a vitória da dinamarquesa Liz; Hartel, medalha de prata em Adestramento nas Olimpíadas de Helsinki em 1952, já adulta, contraiu Poliomielite e foi condenada à cadeira de rodas. Amazona desde criança, não aceitou a situação e partiu para a luta. Com incrível força de vontade, não apenas superou a deficiência, como também todos os seus concorrentes sem deficiência.
Nos anos 50 e 60 surgiram simultaneamente os primeiros grupos de terapia em vários países da Europa e, pouco depois, nos EUA. Inicialmente, esses grupos trabalhavam empiricamente, mas hoje muitos estão ligados a hospitais universitários e dispõe-se de trabalhos científicos sobre a eficácia da Equoterapia.

Outro impulso para que ela se tomasse uma prática mais conhecida e estudada foi a Segunda Guerra Mundial, onde começou uma verdadeira "Renascença" da Equoterapia. Isso deve�se, em grande parte, aos mutilados de guerra, pois muitos deles tinham sido excelentes cavaleiros, e um tratamento com cavalos podia ter resultados incríveis.

A Realização do Trabalho
A equoterapia tem como eixo principal o "cavalo", que tem os movimentos tridimensionais; indispensáveis para a terapia. Ao se deslocar ao passo, realiza um movimento em seu dorso que se assemelha à marcha humana. O deslocamento longitudinal, transversal e vertical desloca o centro gravitacional do cavalo tridimensionalmente proporcionando um movimento semelhante à bacia pélvica humana durante a marcha. Esse andar tridimensional. corresponde ao andar humano com menos de 57o de diferença. Em casos de lesões cerebrais (congênitas ou acidentais) esta semelhança pode ajudar a fornecer imagens cerebrais seqüenciais e impulsos importantes para se aprender ou reaprender a andar.

Na Equoterapia, ao contrário das terapias tradicionais, onde temos a clássica relação terapeuta-paciente, encontramos como protagonista "em cima" de seu parceiro, o cavalo, e o terapeuta "em baixo" como simples; mediador. Esta inversão de papéis é um fator importante na motivação, talvez a principal responsável dos grandes progressos e melhoras obtidas.

Outra vantagem é que o biorritmo do cavalo, muito semelhante ao humano e seu movimento rítmico-balançante, que estimulam o metabolismo, regulam o tônus e melhoram os sistemas cardiovascular e respiratório.

O movimento e a mudança de equilíbrio constante estimulam o sistema vestibular e solicitam uma adaptação incessante do próprio equilíbrio, fortalecendo a musculatura e a coordenação. Associando este fortalecimento às outras sensações provocadas pelo corpo do cavalo, melhoram a integração sensório-motora e a consciência do próprio corpo.

Mas para que tudo isso seja aproveitado de forma correta e segura, os exercícios devem ser supervisionados por um fisioterapeuta, instrutor de equitação, terapeuta ocupacional. e um psicólogo. Dependendo de cada caso, fonoaudiólogas, pedagogas e educadores físicos são imprescindíveis para explorar todos os benefícios proporcionados pelos cavalos - praticante da equoterapia deverá ser encaminhado por profissional da área médica e/ ou paramédica e, após uma avaliação da equipe, onde são recolhidos dados de acordo com fichas de avaliação em todas as áreas, é elaborado um programa terapêutico para cada caso.

A equipe deve estar em constante intercâmbio, e também em contato com os profissionais ligados ao praticante, pois a supervisão médica é obrigatória.

Indicações e Contra-Indicações
A Equoterapia é indicada para a maioria dos tipos de paralisia cerebral, acidentes vasculares cerebrais, traumas crânio-encefálicos, atrasos maturativos, formas psiquiátricas de psicoses infantis, estados marginais (ex: autismo), Síndrome de Down e dependentes químicos. Além disso, estresse, depressões, hiperatividade, dificuldade no aprendizado, timidez, coordenação motora, postura ou deficiências físicas podem ser sensivelmente aliviados ou superados. Lembrando sempre que a Equoterapia atende "alunos" de qualquer idade.

Existem casos em que a equoterapia não é eficiente e, pelo contrário, pode até trazer prejuízos, como: afecções graves da coluna vertebral, nos casos de luxações de quadril, Síndrome de Down com excesso de afrouxamento nas primeiras vértebras cervicais e em casos de reduzida sensibilidade na região das coxas.

O Cavalo
A potência do cavalo e seu tamanho impõem medo e respeito. Um sentimento irresistível resulta desta atração e do medo natural. Superar este medo, e através deste, outros, ajuda as pessoas, com ou sem deficiência, fortalecendo sua auto-estima, e melhorando sua postura física e moral.

Devido a uma índole boa e receptiva, o cavalo é o parceiro ideal para primeiras tentativas de relacionamento. Além do fato de ser um ótimo companheiro, o cavalo oferece um certo número de possibilidades que nenhum meio mecânico pode garantir. Porém, é um ser animado, e como instrumento de terapia, deverá preencher requisitos que otimizem as respostas esperadas. A segurança é a regra básica para esta prática. O instrutor de equitação, como homem do cavalo, agora "equoterapeuta", tem essa responsabilidade. A escolha do animal, seu condicionamento, os cuidados com sua higiene, saúde e a condução elaborada do animal, junto com a mediação do vínculo homem-cavalo, fazem do instrutor o responsável pela segurança e equilíbrio do conjunto.

Os outros terapeutas, cada um dentro de sua especificação, cuidam do aproveitamento total dos estímulos.
Para aproveitar todo este potencial com segurança, devemos selecionar unicamente animais de criações que permitem uma infância e adolescência saudáveis, com espaço e liberdade, companhia de outros cavalos e boa educação, desenvolvendo seu potencial motor e afetivo equilibradamente, sem sofrerem agressões físicas ou emocionais. Uma longa educação e treinamento são necessários para garantir a colaboração deste parceiro inigualável para a terapia. É bom lembrar que nunca podemos contar com segurança de animais que sofreram os traumas da doma tradicional, e foram eventualmente recuperados.

CRIANÇAS:
As maiores beneficiadas


No mundo moderno a criança das grandes cidades, confinada em espaços limitados, recebe uma sobrecarga de estímulos audiovisuais. A falta de contato com a natureza e seus desafios para a exploração física-motora, como são as árvores e terrenos naturais, priva-a da oportunidade de descobrir o mundo real e de aprender naturalmente a coordenação de seu próprio corpo.

A falta de sensações agradáveis, provocadas por estímulos normais e encontrados num ambiente adequado, pode levar à procura de sensações artificiais cada vez mais fortes e perigosas.

As experiências neuromusculares formam o alicerce indispensável para a boa estruturação da criança, possibilitando o futuro aprendizado intelectual.

O cavalo pode ser um ajudante para suprir este déficit de estimulação tátil proprioceptivo (e muitas vezes também afetivo). O movimento rítmico-balançante melhora a consciência espaço-temporal, a concentração, e o equilíbrio e consolida a segurança gravitacional.

A mistura de atração e medo inerente, representa um grande desafio e motivação. Aceitando este desafio, fica mais fácil superar os medos fortalecendo a confiança e a auto-estima.

O cavalo possibilita um relacionamento afetivo não-verbal, sem conflitos e sem exigências. Constrói uma ponte para estabelecer relações com outros seres, ajudando a controlar agressividade e timidez, bem como regular a hiperatividade. Facilita um relacionamento afetivo, mas sem envolvimento, e impõe limites e respeito pelo seu tamanho, ajudando a criança a aceitar regras e disciplina. Portanto, o cavalo é, ao mesmo tempo, um terapeuta nato, um educador e um grande motivador.


ANDE BRASIL
Desde 1974, acontecem Congressos Internacionais de Equoterapia, agora organizados pela Associação Internacional de Equoterapia. Vinte e seis países estão credenciados e o Brasil está entre eles graças à fundação ANDE - Brasil (Associação Nacional de Equoterapia) criada em 1989, na cidade de Brasília. Para mais infor, mações sobre como e ande praticar a equoterapia, o telefone da ANDE - Brasil é (061) 273-4176. Lembre-se que apenas pessoas especializadas podem ser "equoterapeutas" e a Associação pode lhe indicar profissionais confiáveis e competentes para que você tenha segurança no tratamento.
Colaboradores:
Por Juliana Rose
Revista Horse Ilimitada, Vol. 40, páginas 40, 41 e 42.

sábado, 30 de agosto de 2008

ESTAÇÃO DE MONTA

É na chegada da primavera que se dá início à temporada de monta, ou sela, quando as éguas se encontram prontas para serem fecundadas. Esse período da atividade reprodutiva, que garante a preservação da espécie, se estende até o verão e tem uma explicação simples: garante que os potros venham a nascer sempre na primavera ou início do verão (a gestação de uma égua é de aproximadamente 11 meses), período em que as pastagens são mais ricas e o clima ameno ajuda na sobrevivência do recém-nascido.
Com conhecimento de causa, alguns cuidados básicos e um manejo correto a sua égua terá, sem problemas, o potrinho que você tanto deseja.

Influência do clima
1

A égua e classificada como “poliestrica estacional”, ou seja, ela apresenta sucessivos ciclos reprodutivos (cientificamente denominados de ciclos estrais), que sempre se repetem a cada 19 ou 22 dias durante o período de primavera e verão, quando acontece a estação de monta.
Conheça quais são as vantagens da temporada de monta e os procedimentos de manejo

2
A espécie eqüina é muito afetada pelo foto-período, que é o número de horas de incidência solar ao longo de 24 horas. A diferença de foto-período de inverno e de verão (dias curtos e dias longos) é tanto maior quanto mais afastados estivermos do equador. O dia mais curto do ano, no hemisfério sul, é 21 de junho; depois dele, os dias voltam a ficar mais longos, até 21 de dezembro (solstícios de inverno e de verbo). O efeito principal do foto-período sobre os cavalos se dá no aparelho reprodutor - durante o inverno, aproximadamente de abril a agosto, as éguas deixam de ciciar (entrar em cio), e mesmo o interesse sexual dos garanhões é bastante diminuído. Com as correspondentes alterações hormonais (mesmo em cavalos castrados), todo o metabolismo se torna mais lento e menos eficiente, às vezes afetando também o temperamento e o desempenho do animal.

3
Nos meses de menor luminosidade (outono e inverno) a atividade reprodutiva cessa, pois uma menor quantidade de luz é captada pela retina e transmitida a áreas cerebrais responsáveis pelo controle da atividade reprodutiva.

4
A diminuição da luminosidade reta um bloqueio sobre os ovários e o útero e a fêmea entra numa fase de afuncionalidade reprodutiva, conhecida como anestro sazonal que dura até que a luminosidade diária aumente novamente, o que acontece na primavera subseqüente.

5
Nas regiões de clima tropical ou subtropical, como as encontradas em quase todo o Brasil, excetuando-se a região sul, o inverno é menos rigoroso e a queda da luminosidade não é tão marcante; nessas regiões, cerca de 10% a 20% das fêmeas continuam ciclando normalmente, permitindo que sejam emprenhadas em qualquer época do ano.

Benefícios
6
Definindo, estação de monta ou temporada de monta é o período do ano estabelecido para a realização das atividades ligadas à reprodução. As vantagens de se trabalhar com uma estação de monta são inúmeras, não apenas do ponto de vista de manejo, mas também financeiramente.

7
Permite concentrar o trabalho da mão-de-obra envolvida com a atividade reprodutiva, manejo das fêmeas prenhes e dos potros gerados.

8
As fêmeas paridas em data próxima podem ser agrupadas em um mesmo lote, já que a mistura de potros de diferentes faixas etárias num mesmo piquete não é recomendável, pois predispõe a acidentes e disseminação de doenças aos animais menores.

9
Na época do desmame, os potros de mesma faixa etária poderão ser agrupados em grupos maiores, facilitando o manejo dentro da propriedade e posterior destino, seja ele a doma, atividade atlética, exposições ou simples venda.

10
Há um manejo mais racional 1 dos piquetes, pois havendo menor número de grupos por categoria (por exemplo, éguas vazias, prenhas, paridas, potros desmamados, potros de sobreanos, etc.) também haverá necessidade de menor número de piquetes na propriedade, ou ainda propicia uma maior rotação dos animais pelos piquetes existentes, melhorando a qualidade das pastagens.

11
A instituição de uma estação de monta numa propriedade deve ser feita paulatinamente, isto é, no primeiro ano com certeza haverá potros nascidos tardiamente, como por exemplo, março ou abril; considerando-se o período de monta corno sendo de setembro a fevereiro, teremos que deixar a reprodutora vazia até a primavera próxima.

12
A diminuição do período disponível aos serviços reprodutivos torna necessário um maior controle sobre aspectos de sanidade reprodutiva e ligados à administração.

13
A supervisão do médico veterinário é importante, diagnosticando e tratando as éguas-problema no outono e inverno, para que estas possam receber o macho na primavera diminuindo-se ao máximo a necessidade de tratamentos dentro do restrito período de monta

14
A maior parte das reproduções virgens e vazias apresentar-se-ão em anestro sazonal até o início da primavera, passando então por um período denominado de “transição’, que dura de 1 a 2 meses, só então retomando a atividade cíclica normal. Assim, muitas destas fêmeas poderão apresentar-se sem cio no início da temporada, atrasando a rotina instalada.

15
Existem maneiras de “burlar” os efeitos da baixa luminosidade sobre a atividade ovariana da égua, como por exemplo, estabulando as reprodutoras ao final do dia e colocando-as em baias iluminadas durante o anoitecer e parte da noite, simulando-se um dia mais extenso.

16
A manipulação do ciclo também pode ser feita com a utilização de certas drogas, visando “encurtar” a fase de transição, trazendo mais precocemente o animal ao cio.

17
A maneira ideal de utilizar essas ferramentas deve ficar a cargo do médico veterinário responsável pela propriedade, já que envolve um grande conhecimento de fisiologia e clínica da reprodução.

18
No que diz respeito ao manejo geral, salientamos que o acompanhamento do plantel durante o outono e inverno é tão importante como aquele a ser realizado durante a estação de monta.

19
Animais deixados em piquetes no outono e inverno com certeza ciciarão mais tardiamente, devido não apenas aos efeitos da baixa luminosidade, mas também em decorrência do baixo plano nutricional a que estão submetidos.

20
Relatos de trabalhos científicos mostram que reprodutoras que vêm ganhando peso na época em que são cobertas são mais férteis do que aquelas magras ou perdendo peso. O excesso de peso também é desaconselhável, pois éguas obesas têm um menor índice de fertilidade.

21
As fêmeas paridas normalmente não atravessam um período de anestro sazonal ou pós-parto, tornando desnecessário o uso de programas de luz artificial ou de hormônios. Algumas delas, porém, podem entrar num período de inatividade sexual, o que ocorre principalmente nas fêmeas que parem em estado nutricional muito ruim ou naquelas que vêm parindo há três ou mais anos consecutivos, parecendo significar uma pausa para descanso ou recuperação.

22
Administrativamente deve-se elaborar a estratégia do haras com antecedência, escolhendo os reprodutores a serem utilizados, as respectivas fêmeas e o período provável para o encaminhamento, providenciando o transporte, exame de Anemia Infecciosa Eqüina, indispensável ao trânsito dos animais entre propriedades e verificação das condições de alojamento das reprodutoras na propriedade do garanhão.

23
São poucas as raças que têm período de monta fixado pela associação responsável; o mais comum é que cada propriedade fixe seu período de reprodução, que normalmente vai de setembro a fevereiro.

24
A raça PSI é aquela que tem a temporada mais rigidamente estabelecida pela associação da raça (Stud Book Brasileiro), a qual é fixada entre 15 de agosto a 15 de janeiro. Além das vantagens citadas anteriormente o estabelecimento de uma temporada restrita para essa raça permite um agrupamento mais homogêneo dentro dos produtos gerados, facilitando o aproveitamento desses como atleta.

O transporte
25
É a égua que sempre deixa o habitat para ser colocada junto ao garanhão para a cobertura. Antes de transportá-la ao destino é importante checar novamente o combinado com o proprietário do garanhão, avisando-o que sua égua está sendo transportada para a sua propriedade.

26
Se a égua estiver no cio do potro e o potro estiver com diarréia, gripe ou qualquer outra doença, evite transportá-los nessas condições; espere mais 20 dias até a égua entrar em cio novamente, faça uma checagem do potro e se tudo estiver bem proceda com o transporte.

27
Não se esqueça de levar consigo toda a documentação da égua bem como os exames: nota fiscal, documentos de registro da égua, exame de AIE (Anemia Infecciosa Eqüina) e histórico reprodutivo.

A cobertura
28
O cio, período em que a égua ser coberta pelo garanhão, tem duração de três a sete dias, sendo que a grande maioria das éguas tem cio de cinco dias; em condições normais, são raros os casos de estro (cio) mais prolongado do que sete dias.

29
A ovulação, quando o folículo rompe, liberando o óvulo para a fertilização, ocorre no penúltimo ou geralmente último dia de estro. Um erro muito comum entre criadores iniciantes é mandar cobrir a égua assim que o estro começa, quando ela está apenas aceitando o reprodutor, porém ainda não fértil. Já que o esperma sobrevive no trato reprodutor feminino por 48 horas, a prática correta é mandar cobrir a égua em dias alternados a partir do primeiro dia de estro, prosseguindo enquanto ela estiver aceitando o macho, mesmo que isso leve mais do que cinco dias (três coberturas).

30
Nos haras que possuem assistência veterinária diária, faz-se o toque (palpação retal) diariamente nas éguas em estro, para começar a cobri-las apenas um ou dois dias antes da previsão de ovulação. Assim evita-se o desgaste do reprodutor e diminui-se o risco de acidentes no momento da cobertura.

31
As três possibilidades de se realizar a cobertura são: a campo, no piquete ou à mão. A cobertura a campo, onde o garanhão vive normalmente solto com as éguas, determinando ele mesmo o momento e a freqüência dos saltos, é a mais natural, e obviamente não depende de conhecimento ou ajuda humana para ser levada a termo. No entanto, ela praticamente não é utilizada na criação intensiva de cavalos, limitando-se a raças que ainda vivem em estado semi-selvagem, tais como o Crioulo.

32
A cobertura em piquete consiste em colocar a égua solta num padoque ou piquete pequeno, depois conduzindo a ela o reprodutor, que também será solto. Os animais serão separados novamente assim que a cobertura tiver sido realizada. Esta pode ser uma boa opção quando as pessoas envolvidas não tiverem experiência na condução de garanhões durante o ato de monta. No entanto, é importante que ambos os animais sejam experientes, e que a égua esteja realmente em fase de aceitação do macho. O coice de uma égua pode inutilizar um reprodutor, ou mesmo causar-lhe uma fratura, ou ainda traumatizar um reprodutor jovem, que posteriormente poderá se recusar a efetuar novos saltos.

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A cobertura à mão é a mais utilizada nos haras; nela a égua é contida com cabresto, peia e eventualmente cachimbo, e o garanhão é conduzido até ela, numa guia ou corda longa presa ao cabresto ou à embocadura. É o método mais seguro quanto à prevenção de acidentes, porém exige bastante experiência da pessoa que estiver conduzindo o reprodutor. E necessário que o garanhão respeite a pessoa, deixando-se conduzir ao local de monta - e não arrastando seu condutor - e depois aguardando a ‘autorização’ do condutor para proceder ao salto.

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Se a égua estiver com um potro ao pé, é melhor que o mesmo permaneça confinado na cocheira durante a cobertura ou, se o potro for muito pequeno, ou a égua muito nervosa, devemos designar uma pessoa para contê-lo, segurando-o durante toda a cobertura. E muito fácil que um potrinho se machuque durante a cobertura de sua mãe, ou ainda que a mesma fique nervosa devido à agitação de seu filho, passando a rejeitar o reprodutor.

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Devemos evitar que a cobertura se torne um “evento”, com a presença de espectadores curiosos e barulhentos, que deixarão os animais mais nervosos e agressivos. Devemos reduzir o número de pessoas presentes ao mínimo indispensável, e elas devem se comportar com o máximo de silêncio e tranqüilidade.

Colaboradores:
Luís Alberto S. Lopes, veterinário do Posto de Fomento do Jockey Club de São Paulo
João L. Fleury, veterinário da Central de Reprodução 10, Faz. Sta. Amélia, S. J. do Rio Pardo e Claudia Leschonski, veterinária, treinadora e coordenadora técnica desta revista.
Revista Horse Ilimitada, Vol.18, Página 46-49
Outubro de 1995

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Importância do Sal Mineral na Nutrição dos Eqüinos

A Importância do Sal Mineral na Nutrição dos Eqüinos

Adalgiza Souza Carneiro de Rezende


Sal na dose certa, só com análise das gramíneas.

Uma alimentação adequada para os eqüinos é fator vital para o bom desenvolvimento da criação. Sem uma dieta correta, estes animais podem apresentar os mais diversos problemas. Nesse contexto, os minerais têm importante participação na formação do esqueleto e nos processos fisiológicos que acontecem durante toda a vida de um eqüino.

Como as pastagens têm sua composição em minerais variável, de acordo com a qualidade do solo onde estão implantadas, é recomendado que seja formulado um sal de acordo com análise previa das gramíneas presentes no haras. Para Adalgiza Souza Carneiro de Rezende, professora de eqüinocultura da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorada em Nutrição Animal, o assunto não é tão simples assim. Num período recente de tres meses ela chegou a atender quatro criatórios no país – um em Pernambuco, outro em Florestal (MG), um terceiro em Montes Claros (MG) e o quarto em Betim (MG) – com problemas de deficiência de mineral na alimentação. O que ocorre, segundo ela, é que em muitos casos há um desgaste excessivo do solo que acaba comprometendo os níveis dos minerais. "Tem também o criador que coloca número excessivo de animais em uma área pequena, exigindo muito do solo, que fica necessitado de reposição (adubação), o que na maioria das vezes não é feita. O solo então, deficiente, não tem como passar minerais para as gramíneas que serão ingeridas pelo cavalo. Adalgiza afirmou que já analisou os minerais das gramíneas de duas fazendas vizinhas e uma apresentou excelentes níveis, enquanto a outra estava completamente deficitária. Portanto, o ideal é que as gramíneas de cada fazenda sejam analisadas separadamente", recomendou.

Ela classificou a utilização do sal vendido normalmente no comércio como "quebra-galho". "Esse tipo de sal é formulado para uma média de deficiência mínima. O criador compra esse sal e acha que está fazendo a coisa ideal, se ele não suprir as exigências do rebanho e algum problema acontecer, eles não pensam nunca na deficiência de minerais, pois acreditam que os animais estão ingerindo o que necessitam", Uma boa orientação, segundo ela, é ficar atento aos pastos de baixadas (brejos). "Eles normalmente apresentam excesso de alumínio que indisponibilizam o cálcio, levando à sua deficiência". Outro agravante, segundo Adalgiza, são as gramíneas indicadas para clima tropical como o nosso, a maioria delas possui excesso de oxalato, que indisponibiliza o cálcio, pois formam compostos indissolúveis com esse mineral. É o caso dos pastos de braquiara humidícula, setária, tanzânia, transvala, tangola dentre outros. As gramíneas que normalmente não costumam ser problemática para os eqüinos por não apresentarem altos níveis de oxalato, são tifton, coast cross, gigs e estrela africana (branca).

Conforme a professora, nada substitui a análise do solo para a formulação do sal. O cálcio é um dos mais importantes minerais que devem ser ingeridos pelo cavalo e sua deficiência ou excesso na alimentação pode provocar transtornos em quase todas as fases de vida do eqüino, pois alem de fazer parte do esqueleto e ser fundamental para o crescimento do potro, é também, fundamental para o a égua que se encontra no terço final da gestação, pois nesta fase acontece 70% do desenvolvimento do feto. As necessidades de cálcio para a égua durante a lactação também aumentam muito e para os eqüinos que estão trabalhando esse mineral é também fundamental, pois é exigido durante a contração muscular. "É muito importante saber a relação entre os níveis de cálcio e de oxalato da gramínea. Para que o oxalato não indisponibilize o cálcio da gramínea, essa relação tem que ser maior que 0,5. Muitas vezes, a gramínea tem alto teor de oxalato, mas se foi plantada em região calcária e a relação entre cálcio e oxalato for maior que 0,5 os problemas não vão acontecer", orientou.



Cara inchada é o ultimo estágio da carência de cálcio.

O sal mineral é importante por conter elementos indispensáveis, ausentes ou presentes em quantidades pequenas nas gramíneas, como o cálcio, fósforo, zinco, cobre, etc. A carência ou o excesso desses minerais na alimentação dos eqüinos pode provocar sérios danos e prejuízos aos criadores. Os sintomas se refletem na formação dos ossos, tendões, no baixo rendimento para o trabalho e na vida reprodutiva dos animais. Por exemplo, o último e mais grave sinal da deficiência de cálcio na dieta de um cavalo se manifesta através da "cara inchada", um sintoma que o animal apresenta quando, para suprir a deficiência de cálcio na corrente circulatória, passa a retirá-lo do próprio osso, o que leva a formação de um tecido fibroso no local e em estágio avançado da deficiência de cálcio esse sintoma aparece e é irreversível. Quando os animais manifestam "cara inchada" é sinal de que já apresentaram inúmeras outras complicações que passaram despercebidas. Os sintomas são mais evidenciados naquelas categorias que necessitam de maiores quantidades de cálcio na dieta, como éguas no final da gestação e em lactação e potros em crescimento, Antes do aparecimento da "cara inchada" pode acontecer das éguas caírem pouco antes do parto e se apresentarem sem força.

No potro, em desenvolvimento no útero da égua, a deficiência de minerais pode acarretar sua má formação. Vale lembrar também que o potro cresce muito rapidamente durante seu primeiro ano de vida. Isso significa que nesta fase ele tem uma necessidade muito grande dos minerais ligados à formação óssea.

O eqüino em trabalho pode demonstrar que está sofrendo deficiência de minerais quando apresenta o andar travado e curto, pois o cálcio é fundamental na contração do músculo ou quando apresenta queda do desempenho, pois além do fósforo ser integrante da molécula de ATP, que fornece energia ao animal, alguns minerais são fundamentais no metabolismo dos carboidratos, que fornecem energia ao eqüino em trabalho.

Deve se considerar também a ingestão de sal mineral pelos eqüinos, pois eles são muito seletivos. Para que ingiram o que necessitam, torna-se necessário misturar ao sal, alimentos palatáveis como fubá ou melaço. Essa relação tem que ser maior que 0,5, explicou".

Outro problema sério na avaliação de Adalgiza é a conscientização do tratador para o fornecimento diário de sal. "Em virtude da quantidade relativamente pequena, ingerida pelos animais, os tratadores acham que o cavalo não precisa do mineral e acabam deixando-o de lado, quando na verdade, deveriam deixá-lo disponíveis à vontade, todos os dias do ano, para que eles consumissem de acordo com sua necessidade. Esse sal deve ser colocado em cochos cobertos, para evitar seu desperdicio nos dias de chuvas", recomendou.

Para solucionar os problemas decorrentes da deficiência de mineral no plantel eqüino diversos haras já fornecem um sal mineral formulado a partir da análise das gramíneas presentes na área de criação.



Alguns sinais de que o rebanho está recebendo mineralização inadequada




Potros apresentam ossatura fina e leve

Problemas de ligamentos ou tendões que provocam flexão exagerada das quartelas nos animais, principalmente quando se movimentam.

Problemas reprodutivos.

Potros apresentando má formação, ao nascimento.

Potros pequenos e com problemas de aprumos, principalmente com jarretes fechados (cambaios)

Animais com baixo desempenho no trabalho

Dificuldades de locomoção (dificuldades de articulação dos membros)

Claudicação (manqueira) que se alterna entre os 4 membros (quando fica difícil definir em qual membro está localizada a causa da manqueira)

A administração incorreta de sal mineral é um problema de rebanho e não especificamente de um animal.


Necessidade diária de minerais pelas diversas categorias de eqüinos

(com peso adulto em torno de 400 kg)

Mineralização de potros em crescimento

Mineralização de potros em crescimento
(Por: Dra. Claudia Ehlers Kerber)*

1) Introdução
Nos criatórios de bom padrão não é comum observarmos os sintomas de distrofias ósseas mas o desequilíbrio mineral se manifesta na forma de um esqueleto frágil mesmo sem a observação clínica. Este enfraquecimento se manifesta somente quando o animal é submetido ao treinamento intensivo. Assim, o diagnóstico precoce dos desequilíbrios minerais assume grande importância na medida em que os distúrbios podem ser reversíveis se a causa for corrigida rapidamente.
Nas áreas tropicais do Brasil, o desenvolvimento das pastagens de características tropicais, as alterações sazonais e a tendência à grande concentração de animais devido ao alto custo da terra, freqüentemente resultam em uma alimentação deficiente em minerais e aparecimento de distrofias ósseas que depreciam o valor econômico dos eqüinos e muitas vezes os inutilizam para o trabalho.

2) Considerações sobre o cálcio e o fósforo do ponto de vista nutricional em eqüinos
Os cavalos são altamente suscetíveis a sofrer com dietas contendo níveis inadequados de cálcio e/ou fósforo mais do que qualquer outro mineral. Segundo a recomendação do National Research Council, a quantidade de ração concentrada oferecida aos eqüinos nunca deveria ultrapassar 50% do total da dieta. A outra metade deve se constituir de volumoso, mais freqüentemente administrado na forma de pastejo. Os concentrados são ricos em energia e fósforo e pobres em cálcio. O excesso de ingestão de concentrados é a principal causa de aparecimento de lesões ósseas nos cavalos. Altos níveis de cálcio (3 vezes a recomendação do NRC) não produzem lesões ósseas.
As espécies vegetais mais recomendadas pelos agrônomos para formar pastos para eqüinos nas áreas tropicais são as de crescimento estolonífero que se recuperam bem após o pastejo contínuo e se adaptam bem ao clima tropical e ao hábito de pastejo rasteiro dos eqüinos. O Coast Cross é o mais popular, é resistente ao frio e permanece verde o ano inteiro mas é exigente quanto à fertilidade e responde bem à adubação. Recentemente o Tifton e outras variantes tem sido introduzidas.
Ainda que se adote os cuidados necessários para uma máxima produção, as pastagens tropicais apresentam cerca de 80% da produção total no período denominado "verão agrostológico" (setembro a abril) e somente 20% no inverno. O seu valor nutritivo também diminui no inverno. Assim, enquanto uma pastagem de 1 hectare bem manejada no verão suporta facilmente 5 cavalos, no inverno ela pode não ser suficiente nem mesmo para dois deles.
As rações comercialmente disponíveis para cavalos tem o milho como principal fonte de energia e a base da alimentação dos eqüinos no nosso meio é com gramíneas. Nem os grãos nem as gramíneas contém suficiente quantidade de cálcio para suprir as necessidades de um cavalo em crescimento, especialmente se ela for de má qualidade ou estiver muito madura. Desta forma, as necessidades diárias dos cavalos com relação ao fósforo são satisfeitas ou estão em excesso enquanto que as de cálcio estão bem aquém do necessário, devendo ser corrigidas através de suplementação mineral e/ou fornecendo forragem a base de leguminosas. As leguminosas (alfafa, trevo) possuem 3 a 6 vezes mais cálcio do que as gramíneas e a mesma quantidade de fósforo mas em regiões tropicais o consorciamento de gramíneas/leguminosas não é recomendado de forma que os criadores são obrigados a administrar feno de leguminosas (alfafa) se pretendem utilizar este alimento.
De uma forma geral o balanceamento das rações para eqüinos é feita com base na idade/peso e tipo de trabalho que eles desenvolvem não levando em conta estas variações sazonais ou a qualidade da forragem oferecida, embora isto seja da maior importância, já que respeitando-se a proporção de fornecer 50% da ração em concentrado, um cavalo em crescimento ingere aproximadamente 2 a 2,5% do seu peso vivo em forragens por dia.

3) O esqueleto eqüino, fisiologia do crescimento e patofisiologia
A manutenção da homeostasia do cálcio e do fosfato depende principalmente do trato intestinal, do esqueleto e dos rins. Além disto uma contribuição essencial é dada pela pele e fígado.
O íon cálcio é de fundamental importância para todos os sistemas biológicos e a sua concentração deve se situar entre limites estreitos de tolerância fisiológica entre os diversos compartimentos. O íon fosfato também é de importância crítica em todos os sistemas biológicos. O nível normal de cálcio no plasma de eqüinos adultos é de 10.2 a 14,3 mg/dl. O de fosfato inorgânico é de 2.1 a 5,9 mg/dl.

O papel do intestino - Vários fatores influenciam a absorção do cálcio e do fósforo. Normalmente cerca de 50% do cálcio ingerido é absorvido mas a eficiência da absorção depende de diversos fatores. Durante períodos de maior intensidade na mineralização óssea, como crescimento, prenhez e lactação, a eficiência da absorção aumenta. Com relação à absorção de fosfato nos eqüinos, a porcentagem absorvida na dieta é relativamente constante e depende principalmente da fonte. Basicamente os fosfatos solúveis são mais facilmente absorvidos e podemos estimar a absorção de fósforo em 29-32% nos concentrados, 44-46% nas forragens e como média geral, 58% nos melhores suplementos minerais.
Fitatos e oxalatos se ligam aos cátions diminuindo a sua absorção. As gramíneas de pastagens tropicais e subtropicais podem apresentar alto nível de oxalato diminuindo a absorção de Cálcio.

O papel do rim - O rim filtra diariamente uma grande quantidade de cálcio não ligado a proteínas mas cerca de 98% é reabsorvido. Reabsorve também 80 a 97% do fósforo filtrado. Quando o nível plasmático de fósforo aumenta, os mecanismos de reabsorção são rapidamente saturados e a excreção, então, aumenta em proporção ao fosfato filtrado.

O papel do esqueleto - A mineralização do osso depende da concentração plasmática de cálcio e fósforo. Por sua vez, o esqueleto é o grande reservatório de cálcio e de fósforo disponível para a manutenção dos níveis normais destes minerais no sangue.

O papel dos hormônios - Os principais hormônios controladores da calcemia são o paratormônio, a calcitonina e a vitamina D, embora outros possam também contribuir.
A ação mais evidente do paratormônio é mobilizar o cálcio das reservas do esqueleto e jogá-lo no fluído extracelular, aumentando a concentração do cálcio plasmático. Ele também aumenta a reabsorção do cálcio no rim e aumenta a excreção urinária de fósforo. O único estímulo necessário para a liberação do paratormônio é a variação na calcemia.
A calcitonina é produzida pelas células C da tireóide. O estímulo para a sua liberação é o aumento da concentração do cálcio iônico no sangue. A ação da calcitonina é antagônica à do paratormônio com relação à reabsorção óssea.
O terceiro importante hormônio envolvido na regulação do metabolismo do cálcio e remodelação do esqueleto é o colecalciferol (vitamina D3), que pode ser absorvido pelo intestino ou sintetizado na epiderme através de reação catalisada pela radiação ultravioleta do sol. Em regiões tropicais a insolação abundante garante excelente aporte de vitamina D3.

4) Patofisiologia
Em cavalos, o mais freqüente desequilíbrio nutricional ligado aos minerais, é a ingestão excessiva de fósforo ou insuficiente de cálcio. A ingestão excessiva de fósforo resulta numa absorção intestinal excessiva e hiperfosfatemia. A hiperfosfatemia estimula a paratireóide indiretamente, levando a reabsorção óssea e aumento da fosfatúria. Da mesma forma, a ingestão insuficiente de cálcio determina uma hipocalcemia que leva a estimulação da paratireóide.
A ingestão contínua de uma dieta desbalanceada leva a um estado permanente de hiperparatireoidismo compensatório e ao desenvolvimento progressivo de distúrbios metabólicos do osso por reabsorção da matriz óssea decorrente da ação do paratormônio.
Os cavalos com este tipo de distúrbios geralmente se alimentam de dietas ricas em grãos e com forragens de baixa qualidade. Este tipo de dieta normalmente é palatável e nutritiva, exceto pelo desequilíbrio cálcio/fósforo, de tal forma que o animal se desenvolve com peso e tamanho normais mas podendo apresentar fragilidade óssea clínica ou subclínica.
Quando as lesões se tornam evidentes clinicamente, algumas das osteopatias mais freqüentemente observadas são as seguintes:
- Osteocondrose - É um defeito da ossificação osteocondral que resulta em diversas manifestações dependendo do local aonde ela se instala. Ela pode surgir na forma de lesões císticas no osso ou como defeito na cartilagem articular. Freqüentemente estas lesões são dolorosas e muitas vezes somente diagnosticadas por exame radiológico ou quando há manifestação de dor, mormente na intensificação do treinamento. O desequilíbrio nutricional especialmente relacionado aos macrominerais é preponderante no aparecimento destas lesões.
- Deformidades angulares ou flexurais - Quando associada ao desenvolvimento, uma das causas pode ser por desequilíbrio mineral.
- Epifisite - Quando a cartilagem de crescimento não é substituída por osso e os vasos não conseguem penetrar na zona de crescimento, o osso não se organiza, há necrose nesta área e podemos observar clinicamente o alargamento no local da placa de crescimento distal do osso rádio. Em potros de até 1 ano, a manifestação mais comum é no metacarpo e metatarso distal de tal forma que os boletos adquirem o formato de "ampulheta". Se estima que 73% a 88% dos problemas de crescimento em potros são devido a deformidades de angulação ou epifisite.
- Distúrbios ósseos no cavalo em treinamento - O cavalo em treinamento está sujeito a muitos tipos de lesão, como fraturas ósseas, inflamação do periósteo, microfraturas, exostoses, etc. Muitas destas patologias podem ter sua origem no desenvolvimento inadequado do esqueleto durante o crescimento.
- Osteodistrofia fibrosa - Em animais adultos com estágio avançado da doença, podemos observar lesões severas especialmente o alargamento dos ossos da mandíbula e maxila, distúrbio conhecido como "cara inchada", e manqueira evidente. Nos ossos da face há queda dos dentes e deposição em excesso de tecido conjuntivo e osteóide, daí o alargamento progressivo dos ossos.

5) Considerações sobre o diagnóstico
O diagnóstico precoce dos desequilíbrios minerais assume grande importância na medida em que os distúrbios ósseos podem ser reversíveis se a causa for corrigida rapidamente. O método de diagnóstico deve ser sensível, precoce e aplicável em larga escala. A anamnese e o exame clínico são imprecisos já que a fragilidade óssea pode não se manifestar clinicamente até que o esqueleto esteja comprometido irreversivelmente. Diversos autores já demonstraram as limitações das dosagens sangüíneas de cálcio, fósforo , fosfatase alcalina, bem como da análise da ração.
Um método bastante recomendado pela sua sensibilidade, custo e precocidade é o clearance fracional de fósforo. Mais recentemente a dosagem de paratôrmonio pelo método de radioimunoensaio e de imunoradiometria de hormônio intacto foram validados para uso em eqüinos mas ainda não há estudos publicados com o seu uso em larga escala e o alto custo é limitante. Finalmente, ainda está em fase de avaliação o uso de marcadores ósseos como método de diagnóstico de osteopatias.

6) Clearance fracional de fósforo
Como descrito acima, os desequilíbrios minerais mais observados no nosso meio, são a carência absoluta de cálcio ou a sua deficiência relativa por excesso de ingestão de fósforo. Isto leva a um aumento na atividade do paratormônio promovendo maior reabsorção óssea e aumento na excreção renal de fósforo. Desta forma, o diagnóstico do aumento do clearance fracional do fósforo pode indicar a ocorrência excessiva de reabsorção e enfraquecimento do esqueleto.
Para determinar a perda renal de um eletrólito, classicamente seria necessário uma coleta de urina durante 24 horas, por causa da variação na quantidade de água da urina. Neste caso, a concentração do eletrólito multiplicado pelo volume urinário daria a excreção urinária diária, no entanto, a coleta de urina durante 24 horas é muito difícil na clínica de eqüinos. Uma alternativa seria comparar o clearance do fósforo com o clearance da creatinina endógena e calcular o clearance fracional, eliminando o volume dos cálculos. A creatinina é produzida continuamente pelo metabolismo muscular e aproximadamente 90% dela é excretada, refletindo, assim, o ritmo de filtração glomerular.
O clearance renal de uma determinada substância representa o volume de plasma que a cada minuto fornecerá a quantidade da substância presente na urina (ml/min).
O procedimento para o cálculo do clearance se inicia com a coleta de urina e sangue sem anticoagulante, os quais devem ser mantidos refrigerados. Realiza-se a dosagem de fósforo e de creatinina nas amostras de sangue e de urina. Os valores encontrados são colocados na fórmula para cálculo da excreção fracional ou clearance fracional. Os valores normais de clearance fracional se mostram dentro de limites bem precisos em cavalos sãos recebendo dieta balanceada e se situam entre 0 e 0,5%. Os valores aumentam bastante quando os animais são submetidos a dietas ricas em fósforo ou pobres em cálcio. Desta maneira, valores acima de 0,5 são indicativos de excreção renal excessiva de fósforo em decorrência do processo de hiperparatireoidismo compensatório.
Os valores aumentados tem grande importância nos animais em crescimento e deve-se proceder a uma análise cuidadosa da ração administrada e ao seu balanceamento. Após implantação da dieta corrigida podemos observar um retorno progressivo aos níveis normais de excreção de fósforo em aproximadamente 30 dias.
Em animais estabulados, os valores de clearance costumam se situar entre 0,5 e 2,5 mas podem aumentar em até 42% em cavalos estabulados clinicamente normais e já foi provado estatisticamente que o alto clearance está associado a fraturas em animais em hipódromo.
Assim, o clearance fracional de fósforo é uma técnica útil e aplicável em larga escala, indicando desequilíbrio dos macrominerais cálcio e fósforo na dieta e enfraquecimento do esqueleto.

FONTE:

* Pós-graduanda do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
Laboratório Paddock - Proprietária
Rua Pero Leão, 149 - CEP 05423-060 – São Paulo-SP
Tel: (11) 3037-7527 / 3031-5543

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