sábado, 28 de março de 2009

Checagem do Aparelho Locomotor

Todos sabem que sem pernas não há cavalo. Mas o que, e quando, e quantas vezes fazer, para que o nosso atleta equino permaneça funcionando no máximo da capacidade? Se você ainda tinha estas dúvidas, não as terá mais depois de estudar este artigo!

Por Claudia Leschonski
Fotos Fernando Megale

Onde há cavalos atletas, há pessoas ocupadas em verificar e cuidar da saúde de pernas e cascos destes animais, a um ponto que poderia parecer exagerado a um observador desavisado. Isto acontece porque da saúde e do perfeito funcionamento do aparelho locomotor depende toda utilização, e portanto a própria razão de ser, de nossos cavalos. E quanto mais exigidos eles forem, em trabalho ou esporte, mais necessário é dedicar toda a atenção possível a pernas e cascos. Como sempre, vale conhecer a fundo a normalidade de cada indivíduo, para detectar todo mais leve indício de anormalidade, sanando-a antes que ela tenha chance de se transformar em um problema d saúde potencialmente grave.

Como muitas das boas práticas de manejo relacionadas ao cavalo, a observação e os cuidados com o locomotor são um hábito a se adquirir. Dizer ou pensar algo do tipo: não cuidei das pernas do cavalo hoje porque não tive tempo - equivale mais ou menos a "não escovei os dentes nem tomei banho porque não tive tempo." Uma vez implantadas, as práticas descritas abaixo que se aplicarem à sua situação passarão a ser não tempo gasto, mas tempo (e dinheiro) economizado, à medida que o seu cavalo será capaz de trabalhar por mais tempo e com mais saúde, correndo menos riscos de sofrer as conseqüências de um ferimento negligenciado ou de uma lesão de esforço não percebida a tempo.

Exame visual diário - O que checar
Existem alguns critérios comuns à observação de todos os segmentos do aparelho locomotor:
* Simetria - de modo geral, um membro deve ser a versão espelhada de seu par oposto, não apenas no tocante ao tamanho e posição, mas também quanto a firmeza e temperatura. Por exemplo, se você não tem certeza de que um casco ou boleto esteja quente ou normal, pode ser valioso segurar os pares, um em cada mão, para comparar.

* Expressão do animal: mesmo que os cavalos não gritem de dor, tal como o fazem cães e humanos (e graças a Deus por isso, dizem alguns, pois do contrário o fundo sonoro das hípicas seria inferno de Dante), eles dão sinais bem claros de estar ao observador atento. Dor ou desconforto podem evidenciados por contrair das costas, murchar das orelhas, ou uma simples da expressão dos olhos, no cavalo em essa ação. No animal em movimento, nem sempre observamos uma claudicação (manqueira) clara, porém uma simples diminuição da amplitude do trote, uma diminuição da vontade de avançar, ou uma posição de cabeça ou dorso diferente, da habitual. Por isso é tão importante conhecer a normalidade de cada cavalo, a qual possibilita que alterações sejam percebidas logo em seu princípio.

1. MOVIMENTAÇÃO: Olhe o animal a passo, de preferência sendo puxado por outra pessoa, se afastando e depois se aproximando de você. Repare se o movimento dá uma impressão de equilíbrio e harmonia, se os quatro cascos tocam o chão de modo rítmico. Se um pé pisa diferente dos outros, precipitado ou mais leve, pode ser um sinal de problema, bem como se a movimentação de cabeça e pescoço ficar diferente. Olhe a garupa por trás, verificando se os lados esquerdo e direito se movimentam de maneira simétrica. Repita a trote, quando especialmente as claudicações de anteriores podem ficar mais evidentes, manifestas na movimentação anormal da cabeça, que desce mais do que o normal quando o membro saudável toca o solo. (Ou seja, se a cabeça abaixa quando a mão esquerda toca o solo, isto pode ser sinal de algum problema na mão direita). Quando não houver pessoa para puxar o cavalo para você, você pode rodar o cavalo na guia; no círculo, o cavalo tende a mancar mais quando o membro afetado estiver no lado interno do círculo. Também a simples observação e "sintonia" com o cavalo nos primeiros minutos de trabalho montado, procurando prestar atenção na qualidade de sua movimentação ao invés de dar comandos logo de saída, é muito importante na percepção precoce de eventuais problemas de locomoção.

2. CASCOS: No animal em movimento, veja se eles tocam o solo de maneira plana, com toda a sua superfície encostando no chão ao mesmo tempo. No animal parado, verifique se os cravos continuam firmes no lugar, e se a ferradura está imóvel ou com algum jogo, caso em que deverá ser reapertada ou repregada. Levantando o casco, veja a saúde de ranilha e bulbos, se há um foco de podridão, pedaços de gravetos ou pedrinhas presos, etc. (Caso você tenha um tratador encarregado da limpeza dos cascos, não hesite em chamar a atenção dele se este trabalho não estiver sendo feito corretamente.) Verifique a temperatura do casco, em toda a extensão de parede e sola, aumentos súbitos de temperatura podem significar o início de broca ou laminite.

3. BOLETOS E CANELAS: Passe as mãos por toda a extensão das pernas, uma de cada vez, desde o joelho (carpo) ou jarrete até a coroa do casco, tanto na face anterior como na posterior. Concentre-se em alterações de volume, de sensibilidade e de temperatura de um dia para outro, principalmente nos tendões flexores e nos boletos. Com prática, você será capaz de diferenciar alterações recentes dos tendões de algum carocinho ou espessamento antigo, e também de avaliar se há pulsação mais forte em um dos boletos ou na coroa, indicativa de alguma lesão. Especialmente nos cavalos mais jovens, o início de sobreossos ou de dor canela pode ser percebido desta maneira. Ao mesmo tempo, você estará examinando a pele da região, verificando o surgimento de frieiras ("casquinhas"), típicas de higiene deficiente, e ainda notando as pequenas lesões que se formam quando o animal está se tocando ou se alcançando, interferências geralmente provenientes de desequilíbrio causado (ou agravado) por ferrageamento incorreto. (Por outro lado, o ferrageamento ortopédico pode sanar quase totalmente a interferência de movimentação de cavalos que tenham aprumos naturalmente defeituosos).

4. DAS ORELHAS A ACUDA: Muitas das claudicações dos cavalos que pensamos originárias dos membros inferiores na verdade começam mais acima, seja no alinhamento defeituoso de algumas vértebras, seja numa lesão muscular de esforço, entre outras causas. E como todo a extensão do corpo do animal pode ser descrita como um longo segmento ósseo revestido por músculos conectados entre si, e coberto por um único ligamento, é claro que um problema numa pequena área desta faixa irá se revestir no conjunto todo.

O exame com pressão digital de nuca, pescoço, cernelha, dorso, lombo e garupa pode ser complicado, pois a reação que num animal significa dor pode apenas ser cócega num outro, e a intensidade da pressão a aplicar também precisa ser aprendida. Mesmo assim, áreas onde a sensibilidade é muito aumentada em relação às outras, assimétricas em relação ao lado oposto, onde houver aumentos de volume ou depressões evidentes, são sempre suspeitas. Um cavalo parado em repouso, porém com a cabeça muito elevada; depressões na musculatura dorsal, logo atrás da cernelha, num cavalo de resto bem musculado; pequenos calombos ósseos ou pontos subcutâneos muito duros, ao longo da coluna vertebral, são sempre merecedores de atenção. Se a sensibilidade do animal em relação a estes pontos aumentar, ou se o sintoma se agravar, um especialista deve ser consultado para verificar se o treinamento pode estar provocando ou agravando alguma alteração de esqueleto ou de musculatura. Muitos cavalos tem “dor nas costas” no dia seguinte ao trabalho intenso ou quando voltam ao trabalho após férias prolongadas. Este sintoma pode ser aliviado com um bom aquecimento antes do trabalho, na guia ou montado, e com massagens após o trabalho.


Quando chamar o veterinário?
Onde, afinal, está o limite entre o excesso e a falta na observação e no tratamento de alguma manqueira ou outro problema relacionado à saúde de cascos e pernas dos cavalos? Infelizmente, não existe resposta genérica e absoluta. Num extremo está o "super-dono", que tal qual uma supermãe toca o alarme a qualquer alteração, real ou imaginada, da movimentação do cavalo; no outro, a pessoa que afugenta preocupações e responsabilidades dando de ombros com um "isso não é nada, em dois dias passa sozinho." Tapar o sol com a peneira pode ser ainda mais danoso do que fazer tempestade em copo d'água.

A única resposta é mesmo conhecer bem o(s) cavalo(s) sob nossos cuidados, monitorá-los diariamente e observar se alguma alteração desaparece logo, ressurge de tempos em tempos, ou se torna crônica. A intuição não pode ser subestimada neste processo: se você tem a clara noção de que o animal não está trotando com a alegria e a desenvoltura de antes, por mais que observadores lhe digam que não notam nada de anormal, provavelmente alguma coisa está acontecendo, talvez num estagio bem precoce. Não se esqueca de que, muitas vezes, o cavaleiro é capaz de sentir o que os olhos do observador não podem ver tão bem, mesmo que ele seja veterinário dos mais habilidosos.

Em nosso círculo de conhecidos, dois animais de salto começaram com uma leve manqueira mais ou menos na mesma época, ambos na faixa dos 13 anos. É nesta idade que muitas patologias artrítico - degenerativas começam a acontecer; se precocemente diagnosticadas e tratadas, o animal pode continuar tendo um uso normal, sem dores, por anos a fio, mas se deixadas ao léu, a degeneração pode avançar rapidamente. No caso em questão, a dona de um dos cavalos ficou uma semana esperando para ver se a manqueira seria resultado de um salto infeliz, ou de algum "mau jeito", mas quando o cavalo continuou a claudicar levemente, ela não teve dúvidas: cancelou outras despesas programadas para chamar um veterinário especializado, que com radiografias e exames diagnosticou um início de calcificação de terceira falange. O cavalo foi tratatado com medicação injetável, depois oral, além de ferrageamento ortopédico,e após dois meses voltou às provas de salto. Depois de dois anos, ele continua trabalhando normalmente, sem qualquer tratamento contínuo além das ferraduras especiais. O outro caso era de uma égua que vinha mancando há meses, toda vez que trabalhava em terreno mais duro. Seu dono afirmava sistematicamente que se tratava de "manqueira psicológica", numa manobra da égua para evitar o trabalho, teoria aparentemente confirmada pelo fato da égua passar longos períodos sem mancar, especialmente quando saía na companhia de outros cavalos. Depois de muito tempo, quando a claudicação havia se torna o constante até mesmo ao passo, o dono chamou o mesmo veterinário, que ficou espantado com as radiografias mais "didáticas" de síndrome do navicular que já havia visto, com as falanges dos anteriores quase totalmente descalcificadas. Diversos, tratamentos bem dispendiosos - infiltrações, ferrageamentos, todo tipo de remédios - surtiram pouquíssimo efeito, até que a melhor opção foi passar a égua à reprodução.
(Nota da Autora: Ambos os casos são reais, porém detalhes foram alterados para preservar a privacidade dos envolvidos ... )


Referência
Revista Horse Business, Março 2000

segunda-feira, 23 de março de 2009

REUNIÃO GEQUUS

Atenção membros e interesados convidamos todos para reunião do GEQUUS, dia 01/04 (Quarta-feira) às 10:00 hs na Sala 5, Bloco C.
Teremos palestra sobre Problemas de Aprumos e será apresentada por Samarone (9º Zootecnia).

Atenciosamente.

sábado, 14 de março de 2009

Horário Reunião

Comunicamos aos membros do GEQUUS e interessados que haverá reunião do grupo na Quarta-feira às 17 hs, na Sala 8, Bloco A.

Atenciosamente,
Organização.