sábado, 30 de agosto de 2008

ESTAÇÃO DE MONTA

É na chegada da primavera que se dá início à temporada de monta, ou sela, quando as éguas se encontram prontas para serem fecundadas. Esse período da atividade reprodutiva, que garante a preservação da espécie, se estende até o verão e tem uma explicação simples: garante que os potros venham a nascer sempre na primavera ou início do verão (a gestação de uma égua é de aproximadamente 11 meses), período em que as pastagens são mais ricas e o clima ameno ajuda na sobrevivência do recém-nascido.
Com conhecimento de causa, alguns cuidados básicos e um manejo correto a sua égua terá, sem problemas, o potrinho que você tanto deseja.

Influência do clima
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A égua e classificada como “poliestrica estacional”, ou seja, ela apresenta sucessivos ciclos reprodutivos (cientificamente denominados de ciclos estrais), que sempre se repetem a cada 19 ou 22 dias durante o período de primavera e verão, quando acontece a estação de monta.
Conheça quais são as vantagens da temporada de monta e os procedimentos de manejo

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A espécie eqüina é muito afetada pelo foto-período, que é o número de horas de incidência solar ao longo de 24 horas. A diferença de foto-período de inverno e de verão (dias curtos e dias longos) é tanto maior quanto mais afastados estivermos do equador. O dia mais curto do ano, no hemisfério sul, é 21 de junho; depois dele, os dias voltam a ficar mais longos, até 21 de dezembro (solstícios de inverno e de verbo). O efeito principal do foto-período sobre os cavalos se dá no aparelho reprodutor - durante o inverno, aproximadamente de abril a agosto, as éguas deixam de ciciar (entrar em cio), e mesmo o interesse sexual dos garanhões é bastante diminuído. Com as correspondentes alterações hormonais (mesmo em cavalos castrados), todo o metabolismo se torna mais lento e menos eficiente, às vezes afetando também o temperamento e o desempenho do animal.

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Nos meses de menor luminosidade (outono e inverno) a atividade reprodutiva cessa, pois uma menor quantidade de luz é captada pela retina e transmitida a áreas cerebrais responsáveis pelo controle da atividade reprodutiva.

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A diminuição da luminosidade reta um bloqueio sobre os ovários e o útero e a fêmea entra numa fase de afuncionalidade reprodutiva, conhecida como anestro sazonal que dura até que a luminosidade diária aumente novamente, o que acontece na primavera subseqüente.

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Nas regiões de clima tropical ou subtropical, como as encontradas em quase todo o Brasil, excetuando-se a região sul, o inverno é menos rigoroso e a queda da luminosidade não é tão marcante; nessas regiões, cerca de 10% a 20% das fêmeas continuam ciclando normalmente, permitindo que sejam emprenhadas em qualquer época do ano.

Benefícios
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Definindo, estação de monta ou temporada de monta é o período do ano estabelecido para a realização das atividades ligadas à reprodução. As vantagens de se trabalhar com uma estação de monta são inúmeras, não apenas do ponto de vista de manejo, mas também financeiramente.

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Permite concentrar o trabalho da mão-de-obra envolvida com a atividade reprodutiva, manejo das fêmeas prenhes e dos potros gerados.

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As fêmeas paridas em data próxima podem ser agrupadas em um mesmo lote, já que a mistura de potros de diferentes faixas etárias num mesmo piquete não é recomendável, pois predispõe a acidentes e disseminação de doenças aos animais menores.

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Na época do desmame, os potros de mesma faixa etária poderão ser agrupados em grupos maiores, facilitando o manejo dentro da propriedade e posterior destino, seja ele a doma, atividade atlética, exposições ou simples venda.

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Há um manejo mais racional 1 dos piquetes, pois havendo menor número de grupos por categoria (por exemplo, éguas vazias, prenhas, paridas, potros desmamados, potros de sobreanos, etc.) também haverá necessidade de menor número de piquetes na propriedade, ou ainda propicia uma maior rotação dos animais pelos piquetes existentes, melhorando a qualidade das pastagens.

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A instituição de uma estação de monta numa propriedade deve ser feita paulatinamente, isto é, no primeiro ano com certeza haverá potros nascidos tardiamente, como por exemplo, março ou abril; considerando-se o período de monta corno sendo de setembro a fevereiro, teremos que deixar a reprodutora vazia até a primavera próxima.

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A diminuição do período disponível aos serviços reprodutivos torna necessário um maior controle sobre aspectos de sanidade reprodutiva e ligados à administração.

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A supervisão do médico veterinário é importante, diagnosticando e tratando as éguas-problema no outono e inverno, para que estas possam receber o macho na primavera diminuindo-se ao máximo a necessidade de tratamentos dentro do restrito período de monta

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A maior parte das reproduções virgens e vazias apresentar-se-ão em anestro sazonal até o início da primavera, passando então por um período denominado de “transição’, que dura de 1 a 2 meses, só então retomando a atividade cíclica normal. Assim, muitas destas fêmeas poderão apresentar-se sem cio no início da temporada, atrasando a rotina instalada.

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Existem maneiras de “burlar” os efeitos da baixa luminosidade sobre a atividade ovariana da égua, como por exemplo, estabulando as reprodutoras ao final do dia e colocando-as em baias iluminadas durante o anoitecer e parte da noite, simulando-se um dia mais extenso.

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A manipulação do ciclo também pode ser feita com a utilização de certas drogas, visando “encurtar” a fase de transição, trazendo mais precocemente o animal ao cio.

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A maneira ideal de utilizar essas ferramentas deve ficar a cargo do médico veterinário responsável pela propriedade, já que envolve um grande conhecimento de fisiologia e clínica da reprodução.

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No que diz respeito ao manejo geral, salientamos que o acompanhamento do plantel durante o outono e inverno é tão importante como aquele a ser realizado durante a estação de monta.

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Animais deixados em piquetes no outono e inverno com certeza ciciarão mais tardiamente, devido não apenas aos efeitos da baixa luminosidade, mas também em decorrência do baixo plano nutricional a que estão submetidos.

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Relatos de trabalhos científicos mostram que reprodutoras que vêm ganhando peso na época em que são cobertas são mais férteis do que aquelas magras ou perdendo peso. O excesso de peso também é desaconselhável, pois éguas obesas têm um menor índice de fertilidade.

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As fêmeas paridas normalmente não atravessam um período de anestro sazonal ou pós-parto, tornando desnecessário o uso de programas de luz artificial ou de hormônios. Algumas delas, porém, podem entrar num período de inatividade sexual, o que ocorre principalmente nas fêmeas que parem em estado nutricional muito ruim ou naquelas que vêm parindo há três ou mais anos consecutivos, parecendo significar uma pausa para descanso ou recuperação.

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Administrativamente deve-se elaborar a estratégia do haras com antecedência, escolhendo os reprodutores a serem utilizados, as respectivas fêmeas e o período provável para o encaminhamento, providenciando o transporte, exame de Anemia Infecciosa Eqüina, indispensável ao trânsito dos animais entre propriedades e verificação das condições de alojamento das reprodutoras na propriedade do garanhão.

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São poucas as raças que têm período de monta fixado pela associação responsável; o mais comum é que cada propriedade fixe seu período de reprodução, que normalmente vai de setembro a fevereiro.

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A raça PSI é aquela que tem a temporada mais rigidamente estabelecida pela associação da raça (Stud Book Brasileiro), a qual é fixada entre 15 de agosto a 15 de janeiro. Além das vantagens citadas anteriormente o estabelecimento de uma temporada restrita para essa raça permite um agrupamento mais homogêneo dentro dos produtos gerados, facilitando o aproveitamento desses como atleta.

O transporte
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É a égua que sempre deixa o habitat para ser colocada junto ao garanhão para a cobertura. Antes de transportá-la ao destino é importante checar novamente o combinado com o proprietário do garanhão, avisando-o que sua égua está sendo transportada para a sua propriedade.

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Se a égua estiver no cio do potro e o potro estiver com diarréia, gripe ou qualquer outra doença, evite transportá-los nessas condições; espere mais 20 dias até a égua entrar em cio novamente, faça uma checagem do potro e se tudo estiver bem proceda com o transporte.

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Não se esqueça de levar consigo toda a documentação da égua bem como os exames: nota fiscal, documentos de registro da égua, exame de AIE (Anemia Infecciosa Eqüina) e histórico reprodutivo.

A cobertura
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O cio, período em que a égua ser coberta pelo garanhão, tem duração de três a sete dias, sendo que a grande maioria das éguas tem cio de cinco dias; em condições normais, são raros os casos de estro (cio) mais prolongado do que sete dias.

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A ovulação, quando o folículo rompe, liberando o óvulo para a fertilização, ocorre no penúltimo ou geralmente último dia de estro. Um erro muito comum entre criadores iniciantes é mandar cobrir a égua assim que o estro começa, quando ela está apenas aceitando o reprodutor, porém ainda não fértil. Já que o esperma sobrevive no trato reprodutor feminino por 48 horas, a prática correta é mandar cobrir a égua em dias alternados a partir do primeiro dia de estro, prosseguindo enquanto ela estiver aceitando o macho, mesmo que isso leve mais do que cinco dias (três coberturas).

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Nos haras que possuem assistência veterinária diária, faz-se o toque (palpação retal) diariamente nas éguas em estro, para começar a cobri-las apenas um ou dois dias antes da previsão de ovulação. Assim evita-se o desgaste do reprodutor e diminui-se o risco de acidentes no momento da cobertura.

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As três possibilidades de se realizar a cobertura são: a campo, no piquete ou à mão. A cobertura a campo, onde o garanhão vive normalmente solto com as éguas, determinando ele mesmo o momento e a freqüência dos saltos, é a mais natural, e obviamente não depende de conhecimento ou ajuda humana para ser levada a termo. No entanto, ela praticamente não é utilizada na criação intensiva de cavalos, limitando-se a raças que ainda vivem em estado semi-selvagem, tais como o Crioulo.

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A cobertura em piquete consiste em colocar a égua solta num padoque ou piquete pequeno, depois conduzindo a ela o reprodutor, que também será solto. Os animais serão separados novamente assim que a cobertura tiver sido realizada. Esta pode ser uma boa opção quando as pessoas envolvidas não tiverem experiência na condução de garanhões durante o ato de monta. No entanto, é importante que ambos os animais sejam experientes, e que a égua esteja realmente em fase de aceitação do macho. O coice de uma égua pode inutilizar um reprodutor, ou mesmo causar-lhe uma fratura, ou ainda traumatizar um reprodutor jovem, que posteriormente poderá se recusar a efetuar novos saltos.

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A cobertura à mão é a mais utilizada nos haras; nela a égua é contida com cabresto, peia e eventualmente cachimbo, e o garanhão é conduzido até ela, numa guia ou corda longa presa ao cabresto ou à embocadura. É o método mais seguro quanto à prevenção de acidentes, porém exige bastante experiência da pessoa que estiver conduzindo o reprodutor. E necessário que o garanhão respeite a pessoa, deixando-se conduzir ao local de monta - e não arrastando seu condutor - e depois aguardando a ‘autorização’ do condutor para proceder ao salto.

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Se a égua estiver com um potro ao pé, é melhor que o mesmo permaneça confinado na cocheira durante a cobertura ou, se o potro for muito pequeno, ou a égua muito nervosa, devemos designar uma pessoa para contê-lo, segurando-o durante toda a cobertura. E muito fácil que um potrinho se machuque durante a cobertura de sua mãe, ou ainda que a mesma fique nervosa devido à agitação de seu filho, passando a rejeitar o reprodutor.

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Devemos evitar que a cobertura se torne um “evento”, com a presença de espectadores curiosos e barulhentos, que deixarão os animais mais nervosos e agressivos. Devemos reduzir o número de pessoas presentes ao mínimo indispensável, e elas devem se comportar com o máximo de silêncio e tranqüilidade.

Colaboradores:
Luís Alberto S. Lopes, veterinário do Posto de Fomento do Jockey Club de São Paulo
João L. Fleury, veterinário da Central de Reprodução 10, Faz. Sta. Amélia, S. J. do Rio Pardo e Claudia Leschonski, veterinária, treinadora e coordenadora técnica desta revista.
Revista Horse Ilimitada, Vol.18, Página 46-49
Outubro de 1995

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Importância do Sal Mineral na Nutrição dos Eqüinos

A Importância do Sal Mineral na Nutrição dos Eqüinos

Adalgiza Souza Carneiro de Rezende


Sal na dose certa, só com análise das gramíneas.

Uma alimentação adequada para os eqüinos é fator vital para o bom desenvolvimento da criação. Sem uma dieta correta, estes animais podem apresentar os mais diversos problemas. Nesse contexto, os minerais têm importante participação na formação do esqueleto e nos processos fisiológicos que acontecem durante toda a vida de um eqüino.

Como as pastagens têm sua composição em minerais variável, de acordo com a qualidade do solo onde estão implantadas, é recomendado que seja formulado um sal de acordo com análise previa das gramíneas presentes no haras. Para Adalgiza Souza Carneiro de Rezende, professora de eqüinocultura da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorada em Nutrição Animal, o assunto não é tão simples assim. Num período recente de tres meses ela chegou a atender quatro criatórios no país – um em Pernambuco, outro em Florestal (MG), um terceiro em Montes Claros (MG) e o quarto em Betim (MG) – com problemas de deficiência de mineral na alimentação. O que ocorre, segundo ela, é que em muitos casos há um desgaste excessivo do solo que acaba comprometendo os níveis dos minerais. "Tem também o criador que coloca número excessivo de animais em uma área pequena, exigindo muito do solo, que fica necessitado de reposição (adubação), o que na maioria das vezes não é feita. O solo então, deficiente, não tem como passar minerais para as gramíneas que serão ingeridas pelo cavalo. Adalgiza afirmou que já analisou os minerais das gramíneas de duas fazendas vizinhas e uma apresentou excelentes níveis, enquanto a outra estava completamente deficitária. Portanto, o ideal é que as gramíneas de cada fazenda sejam analisadas separadamente", recomendou.

Ela classificou a utilização do sal vendido normalmente no comércio como "quebra-galho". "Esse tipo de sal é formulado para uma média de deficiência mínima. O criador compra esse sal e acha que está fazendo a coisa ideal, se ele não suprir as exigências do rebanho e algum problema acontecer, eles não pensam nunca na deficiência de minerais, pois acreditam que os animais estão ingerindo o que necessitam", Uma boa orientação, segundo ela, é ficar atento aos pastos de baixadas (brejos). "Eles normalmente apresentam excesso de alumínio que indisponibilizam o cálcio, levando à sua deficiência". Outro agravante, segundo Adalgiza, são as gramíneas indicadas para clima tropical como o nosso, a maioria delas possui excesso de oxalato, que indisponibiliza o cálcio, pois formam compostos indissolúveis com esse mineral. É o caso dos pastos de braquiara humidícula, setária, tanzânia, transvala, tangola dentre outros. As gramíneas que normalmente não costumam ser problemática para os eqüinos por não apresentarem altos níveis de oxalato, são tifton, coast cross, gigs e estrela africana (branca).

Conforme a professora, nada substitui a análise do solo para a formulação do sal. O cálcio é um dos mais importantes minerais que devem ser ingeridos pelo cavalo e sua deficiência ou excesso na alimentação pode provocar transtornos em quase todas as fases de vida do eqüino, pois alem de fazer parte do esqueleto e ser fundamental para o crescimento do potro, é também, fundamental para o a égua que se encontra no terço final da gestação, pois nesta fase acontece 70% do desenvolvimento do feto. As necessidades de cálcio para a égua durante a lactação também aumentam muito e para os eqüinos que estão trabalhando esse mineral é também fundamental, pois é exigido durante a contração muscular. "É muito importante saber a relação entre os níveis de cálcio e de oxalato da gramínea. Para que o oxalato não indisponibilize o cálcio da gramínea, essa relação tem que ser maior que 0,5. Muitas vezes, a gramínea tem alto teor de oxalato, mas se foi plantada em região calcária e a relação entre cálcio e oxalato for maior que 0,5 os problemas não vão acontecer", orientou.



Cara inchada é o ultimo estágio da carência de cálcio.

O sal mineral é importante por conter elementos indispensáveis, ausentes ou presentes em quantidades pequenas nas gramíneas, como o cálcio, fósforo, zinco, cobre, etc. A carência ou o excesso desses minerais na alimentação dos eqüinos pode provocar sérios danos e prejuízos aos criadores. Os sintomas se refletem na formação dos ossos, tendões, no baixo rendimento para o trabalho e na vida reprodutiva dos animais. Por exemplo, o último e mais grave sinal da deficiência de cálcio na dieta de um cavalo se manifesta através da "cara inchada", um sintoma que o animal apresenta quando, para suprir a deficiência de cálcio na corrente circulatória, passa a retirá-lo do próprio osso, o que leva a formação de um tecido fibroso no local e em estágio avançado da deficiência de cálcio esse sintoma aparece e é irreversível. Quando os animais manifestam "cara inchada" é sinal de que já apresentaram inúmeras outras complicações que passaram despercebidas. Os sintomas são mais evidenciados naquelas categorias que necessitam de maiores quantidades de cálcio na dieta, como éguas no final da gestação e em lactação e potros em crescimento, Antes do aparecimento da "cara inchada" pode acontecer das éguas caírem pouco antes do parto e se apresentarem sem força.

No potro, em desenvolvimento no útero da égua, a deficiência de minerais pode acarretar sua má formação. Vale lembrar também que o potro cresce muito rapidamente durante seu primeiro ano de vida. Isso significa que nesta fase ele tem uma necessidade muito grande dos minerais ligados à formação óssea.

O eqüino em trabalho pode demonstrar que está sofrendo deficiência de minerais quando apresenta o andar travado e curto, pois o cálcio é fundamental na contração do músculo ou quando apresenta queda do desempenho, pois além do fósforo ser integrante da molécula de ATP, que fornece energia ao animal, alguns minerais são fundamentais no metabolismo dos carboidratos, que fornecem energia ao eqüino em trabalho.

Deve se considerar também a ingestão de sal mineral pelos eqüinos, pois eles são muito seletivos. Para que ingiram o que necessitam, torna-se necessário misturar ao sal, alimentos palatáveis como fubá ou melaço. Essa relação tem que ser maior que 0,5, explicou".

Outro problema sério na avaliação de Adalgiza é a conscientização do tratador para o fornecimento diário de sal. "Em virtude da quantidade relativamente pequena, ingerida pelos animais, os tratadores acham que o cavalo não precisa do mineral e acabam deixando-o de lado, quando na verdade, deveriam deixá-lo disponíveis à vontade, todos os dias do ano, para que eles consumissem de acordo com sua necessidade. Esse sal deve ser colocado em cochos cobertos, para evitar seu desperdicio nos dias de chuvas", recomendou.

Para solucionar os problemas decorrentes da deficiência de mineral no plantel eqüino diversos haras já fornecem um sal mineral formulado a partir da análise das gramíneas presentes na área de criação.



Alguns sinais de que o rebanho está recebendo mineralização inadequada




Potros apresentam ossatura fina e leve

Problemas de ligamentos ou tendões que provocam flexão exagerada das quartelas nos animais, principalmente quando se movimentam.

Problemas reprodutivos.

Potros apresentando má formação, ao nascimento.

Potros pequenos e com problemas de aprumos, principalmente com jarretes fechados (cambaios)

Animais com baixo desempenho no trabalho

Dificuldades de locomoção (dificuldades de articulação dos membros)

Claudicação (manqueira) que se alterna entre os 4 membros (quando fica difícil definir em qual membro está localizada a causa da manqueira)

A administração incorreta de sal mineral é um problema de rebanho e não especificamente de um animal.


Necessidade diária de minerais pelas diversas categorias de eqüinos

(com peso adulto em torno de 400 kg)

Mineralização de potros em crescimento

Mineralização de potros em crescimento
(Por: Dra. Claudia Ehlers Kerber)*

1) Introdução
Nos criatórios de bom padrão não é comum observarmos os sintomas de distrofias ósseas mas o desequilíbrio mineral se manifesta na forma de um esqueleto frágil mesmo sem a observação clínica. Este enfraquecimento se manifesta somente quando o animal é submetido ao treinamento intensivo. Assim, o diagnóstico precoce dos desequilíbrios minerais assume grande importância na medida em que os distúrbios podem ser reversíveis se a causa for corrigida rapidamente.
Nas áreas tropicais do Brasil, o desenvolvimento das pastagens de características tropicais, as alterações sazonais e a tendência à grande concentração de animais devido ao alto custo da terra, freqüentemente resultam em uma alimentação deficiente em minerais e aparecimento de distrofias ósseas que depreciam o valor econômico dos eqüinos e muitas vezes os inutilizam para o trabalho.

2) Considerações sobre o cálcio e o fósforo do ponto de vista nutricional em eqüinos
Os cavalos são altamente suscetíveis a sofrer com dietas contendo níveis inadequados de cálcio e/ou fósforo mais do que qualquer outro mineral. Segundo a recomendação do National Research Council, a quantidade de ração concentrada oferecida aos eqüinos nunca deveria ultrapassar 50% do total da dieta. A outra metade deve se constituir de volumoso, mais freqüentemente administrado na forma de pastejo. Os concentrados são ricos em energia e fósforo e pobres em cálcio. O excesso de ingestão de concentrados é a principal causa de aparecimento de lesões ósseas nos cavalos. Altos níveis de cálcio (3 vezes a recomendação do NRC) não produzem lesões ósseas.
As espécies vegetais mais recomendadas pelos agrônomos para formar pastos para eqüinos nas áreas tropicais são as de crescimento estolonífero que se recuperam bem após o pastejo contínuo e se adaptam bem ao clima tropical e ao hábito de pastejo rasteiro dos eqüinos. O Coast Cross é o mais popular, é resistente ao frio e permanece verde o ano inteiro mas é exigente quanto à fertilidade e responde bem à adubação. Recentemente o Tifton e outras variantes tem sido introduzidas.
Ainda que se adote os cuidados necessários para uma máxima produção, as pastagens tropicais apresentam cerca de 80% da produção total no período denominado "verão agrostológico" (setembro a abril) e somente 20% no inverno. O seu valor nutritivo também diminui no inverno. Assim, enquanto uma pastagem de 1 hectare bem manejada no verão suporta facilmente 5 cavalos, no inverno ela pode não ser suficiente nem mesmo para dois deles.
As rações comercialmente disponíveis para cavalos tem o milho como principal fonte de energia e a base da alimentação dos eqüinos no nosso meio é com gramíneas. Nem os grãos nem as gramíneas contém suficiente quantidade de cálcio para suprir as necessidades de um cavalo em crescimento, especialmente se ela for de má qualidade ou estiver muito madura. Desta forma, as necessidades diárias dos cavalos com relação ao fósforo são satisfeitas ou estão em excesso enquanto que as de cálcio estão bem aquém do necessário, devendo ser corrigidas através de suplementação mineral e/ou fornecendo forragem a base de leguminosas. As leguminosas (alfafa, trevo) possuem 3 a 6 vezes mais cálcio do que as gramíneas e a mesma quantidade de fósforo mas em regiões tropicais o consorciamento de gramíneas/leguminosas não é recomendado de forma que os criadores são obrigados a administrar feno de leguminosas (alfafa) se pretendem utilizar este alimento.
De uma forma geral o balanceamento das rações para eqüinos é feita com base na idade/peso e tipo de trabalho que eles desenvolvem não levando em conta estas variações sazonais ou a qualidade da forragem oferecida, embora isto seja da maior importância, já que respeitando-se a proporção de fornecer 50% da ração em concentrado, um cavalo em crescimento ingere aproximadamente 2 a 2,5% do seu peso vivo em forragens por dia.

3) O esqueleto eqüino, fisiologia do crescimento e patofisiologia
A manutenção da homeostasia do cálcio e do fosfato depende principalmente do trato intestinal, do esqueleto e dos rins. Além disto uma contribuição essencial é dada pela pele e fígado.
O íon cálcio é de fundamental importância para todos os sistemas biológicos e a sua concentração deve se situar entre limites estreitos de tolerância fisiológica entre os diversos compartimentos. O íon fosfato também é de importância crítica em todos os sistemas biológicos. O nível normal de cálcio no plasma de eqüinos adultos é de 10.2 a 14,3 mg/dl. O de fosfato inorgânico é de 2.1 a 5,9 mg/dl.

O papel do intestino - Vários fatores influenciam a absorção do cálcio e do fósforo. Normalmente cerca de 50% do cálcio ingerido é absorvido mas a eficiência da absorção depende de diversos fatores. Durante períodos de maior intensidade na mineralização óssea, como crescimento, prenhez e lactação, a eficiência da absorção aumenta. Com relação à absorção de fosfato nos eqüinos, a porcentagem absorvida na dieta é relativamente constante e depende principalmente da fonte. Basicamente os fosfatos solúveis são mais facilmente absorvidos e podemos estimar a absorção de fósforo em 29-32% nos concentrados, 44-46% nas forragens e como média geral, 58% nos melhores suplementos minerais.
Fitatos e oxalatos se ligam aos cátions diminuindo a sua absorção. As gramíneas de pastagens tropicais e subtropicais podem apresentar alto nível de oxalato diminuindo a absorção de Cálcio.

O papel do rim - O rim filtra diariamente uma grande quantidade de cálcio não ligado a proteínas mas cerca de 98% é reabsorvido. Reabsorve também 80 a 97% do fósforo filtrado. Quando o nível plasmático de fósforo aumenta, os mecanismos de reabsorção são rapidamente saturados e a excreção, então, aumenta em proporção ao fosfato filtrado.

O papel do esqueleto - A mineralização do osso depende da concentração plasmática de cálcio e fósforo. Por sua vez, o esqueleto é o grande reservatório de cálcio e de fósforo disponível para a manutenção dos níveis normais destes minerais no sangue.

O papel dos hormônios - Os principais hormônios controladores da calcemia são o paratormônio, a calcitonina e a vitamina D, embora outros possam também contribuir.
A ação mais evidente do paratormônio é mobilizar o cálcio das reservas do esqueleto e jogá-lo no fluído extracelular, aumentando a concentração do cálcio plasmático. Ele também aumenta a reabsorção do cálcio no rim e aumenta a excreção urinária de fósforo. O único estímulo necessário para a liberação do paratormônio é a variação na calcemia.
A calcitonina é produzida pelas células C da tireóide. O estímulo para a sua liberação é o aumento da concentração do cálcio iônico no sangue. A ação da calcitonina é antagônica à do paratormônio com relação à reabsorção óssea.
O terceiro importante hormônio envolvido na regulação do metabolismo do cálcio e remodelação do esqueleto é o colecalciferol (vitamina D3), que pode ser absorvido pelo intestino ou sintetizado na epiderme através de reação catalisada pela radiação ultravioleta do sol. Em regiões tropicais a insolação abundante garante excelente aporte de vitamina D3.

4) Patofisiologia
Em cavalos, o mais freqüente desequilíbrio nutricional ligado aos minerais, é a ingestão excessiva de fósforo ou insuficiente de cálcio. A ingestão excessiva de fósforo resulta numa absorção intestinal excessiva e hiperfosfatemia. A hiperfosfatemia estimula a paratireóide indiretamente, levando a reabsorção óssea e aumento da fosfatúria. Da mesma forma, a ingestão insuficiente de cálcio determina uma hipocalcemia que leva a estimulação da paratireóide.
A ingestão contínua de uma dieta desbalanceada leva a um estado permanente de hiperparatireoidismo compensatório e ao desenvolvimento progressivo de distúrbios metabólicos do osso por reabsorção da matriz óssea decorrente da ação do paratormônio.
Os cavalos com este tipo de distúrbios geralmente se alimentam de dietas ricas em grãos e com forragens de baixa qualidade. Este tipo de dieta normalmente é palatável e nutritiva, exceto pelo desequilíbrio cálcio/fósforo, de tal forma que o animal se desenvolve com peso e tamanho normais mas podendo apresentar fragilidade óssea clínica ou subclínica.
Quando as lesões se tornam evidentes clinicamente, algumas das osteopatias mais freqüentemente observadas são as seguintes:
- Osteocondrose - É um defeito da ossificação osteocondral que resulta em diversas manifestações dependendo do local aonde ela se instala. Ela pode surgir na forma de lesões císticas no osso ou como defeito na cartilagem articular. Freqüentemente estas lesões são dolorosas e muitas vezes somente diagnosticadas por exame radiológico ou quando há manifestação de dor, mormente na intensificação do treinamento. O desequilíbrio nutricional especialmente relacionado aos macrominerais é preponderante no aparecimento destas lesões.
- Deformidades angulares ou flexurais - Quando associada ao desenvolvimento, uma das causas pode ser por desequilíbrio mineral.
- Epifisite - Quando a cartilagem de crescimento não é substituída por osso e os vasos não conseguem penetrar na zona de crescimento, o osso não se organiza, há necrose nesta área e podemos observar clinicamente o alargamento no local da placa de crescimento distal do osso rádio. Em potros de até 1 ano, a manifestação mais comum é no metacarpo e metatarso distal de tal forma que os boletos adquirem o formato de "ampulheta". Se estima que 73% a 88% dos problemas de crescimento em potros são devido a deformidades de angulação ou epifisite.
- Distúrbios ósseos no cavalo em treinamento - O cavalo em treinamento está sujeito a muitos tipos de lesão, como fraturas ósseas, inflamação do periósteo, microfraturas, exostoses, etc. Muitas destas patologias podem ter sua origem no desenvolvimento inadequado do esqueleto durante o crescimento.
- Osteodistrofia fibrosa - Em animais adultos com estágio avançado da doença, podemos observar lesões severas especialmente o alargamento dos ossos da mandíbula e maxila, distúrbio conhecido como "cara inchada", e manqueira evidente. Nos ossos da face há queda dos dentes e deposição em excesso de tecido conjuntivo e osteóide, daí o alargamento progressivo dos ossos.

5) Considerações sobre o diagnóstico
O diagnóstico precoce dos desequilíbrios minerais assume grande importância na medida em que os distúrbios ósseos podem ser reversíveis se a causa for corrigida rapidamente. O método de diagnóstico deve ser sensível, precoce e aplicável em larga escala. A anamnese e o exame clínico são imprecisos já que a fragilidade óssea pode não se manifestar clinicamente até que o esqueleto esteja comprometido irreversivelmente. Diversos autores já demonstraram as limitações das dosagens sangüíneas de cálcio, fósforo , fosfatase alcalina, bem como da análise da ração.
Um método bastante recomendado pela sua sensibilidade, custo e precocidade é o clearance fracional de fósforo. Mais recentemente a dosagem de paratôrmonio pelo método de radioimunoensaio e de imunoradiometria de hormônio intacto foram validados para uso em eqüinos mas ainda não há estudos publicados com o seu uso em larga escala e o alto custo é limitante. Finalmente, ainda está em fase de avaliação o uso de marcadores ósseos como método de diagnóstico de osteopatias.

6) Clearance fracional de fósforo
Como descrito acima, os desequilíbrios minerais mais observados no nosso meio, são a carência absoluta de cálcio ou a sua deficiência relativa por excesso de ingestão de fósforo. Isto leva a um aumento na atividade do paratormônio promovendo maior reabsorção óssea e aumento na excreção renal de fósforo. Desta forma, o diagnóstico do aumento do clearance fracional do fósforo pode indicar a ocorrência excessiva de reabsorção e enfraquecimento do esqueleto.
Para determinar a perda renal de um eletrólito, classicamente seria necessário uma coleta de urina durante 24 horas, por causa da variação na quantidade de água da urina. Neste caso, a concentração do eletrólito multiplicado pelo volume urinário daria a excreção urinária diária, no entanto, a coleta de urina durante 24 horas é muito difícil na clínica de eqüinos. Uma alternativa seria comparar o clearance do fósforo com o clearance da creatinina endógena e calcular o clearance fracional, eliminando o volume dos cálculos. A creatinina é produzida continuamente pelo metabolismo muscular e aproximadamente 90% dela é excretada, refletindo, assim, o ritmo de filtração glomerular.
O clearance renal de uma determinada substância representa o volume de plasma que a cada minuto fornecerá a quantidade da substância presente na urina (ml/min).
O procedimento para o cálculo do clearance se inicia com a coleta de urina e sangue sem anticoagulante, os quais devem ser mantidos refrigerados. Realiza-se a dosagem de fósforo e de creatinina nas amostras de sangue e de urina. Os valores encontrados são colocados na fórmula para cálculo da excreção fracional ou clearance fracional. Os valores normais de clearance fracional se mostram dentro de limites bem precisos em cavalos sãos recebendo dieta balanceada e se situam entre 0 e 0,5%. Os valores aumentam bastante quando os animais são submetidos a dietas ricas em fósforo ou pobres em cálcio. Desta maneira, valores acima de 0,5 são indicativos de excreção renal excessiva de fósforo em decorrência do processo de hiperparatireoidismo compensatório.
Os valores aumentados tem grande importância nos animais em crescimento e deve-se proceder a uma análise cuidadosa da ração administrada e ao seu balanceamento. Após implantação da dieta corrigida podemos observar um retorno progressivo aos níveis normais de excreção de fósforo em aproximadamente 30 dias.
Em animais estabulados, os valores de clearance costumam se situar entre 0,5 e 2,5 mas podem aumentar em até 42% em cavalos estabulados clinicamente normais e já foi provado estatisticamente que o alto clearance está associado a fraturas em animais em hipódromo.
Assim, o clearance fracional de fósforo é uma técnica útil e aplicável em larga escala, indicando desequilíbrio dos macrominerais cálcio e fósforo na dieta e enfraquecimento do esqueleto.

FONTE:

* Pós-graduanda do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
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